Intitulatio [dar-se a si próprio um título].

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Confissão


Confesso de que este meu blog é como o colo saudoso da mãe, a consulta do psiquiatra…. De década a década dou cá um pulinho para me embranquecer das transgressão da minha mente, para me expurgar dos meus maiores medos…. Estou a envelhecer e acho que preciso de colo com mais frequência….
Preciso de colo e do silêncio destas páginas para o desabafo…. Preciso, cada vez mais, de mim e de tempo para mim…. Preciso e aqui, assim espero, procurarei regaço.   

Carta aberta ao meu afilhado (o primeiro) [parte III e última]


Chorei… sim chorei! Mas, espera, não posso chorar… se choro sou “drama queen” e, se digo a alguém que chorei, estou a ser intrusivo…. Espera, espera mais uma vez; já são motivos a mais…. Escolhe um por dia….
E como não há duas sem três, aqui vai a escolha do dia de hoje: Carta aberta ao meu afilhado (o primeiro) [parte III].
Espera, espera mais uma outra vez; Estou a perder-me, a transformar-me numa “drama queen” (se fosse um drama king era menos inquietante), estou a perder-me por matizados caminhos…. Agora é que é, sem desvios (deixando-os para um outro dia), só com um caminho: Carta aberta ao meu afilhado (o primeiro) [parte III]:

A chegada de qualquer um a este mundo é sempre glorificada por alguém ou vexada por alguma pessoa…. Mais do que ninguém fui o que mais glorificou o teu advento, alguém menos que eu se sentiu feliz com o anúncio da tua chegada…
Mesmo escolhendo só por este caminho, este não é o correcto, este não é o meu caminho….  Logo, esqueçam o advento, a importância, a tua (meu afilhado) chegada a este mundo. Não interessa os motivos que possibilitaram o meu apadrinhamento, esqueçamos o teu lugar na minha alma, abandonemos as encruzilhadas que nos separam….
Esqueçamos esta merda toda e vamos ao que importa:
Um padrinho é um padre (pai em mirandês) pequeno (-inho), um padrinho é um protector, é um guia imaterial  (se batermos à porta da religião), é alguém que, tal como um pai “grande”, nos pode amar ou odiar….
Este meu caminho vai mesmo ter que se dividir, encruzilhar…. Não consigo pensar em linha recta, logo vamos, eu e o pensamento, cruzar duas ou mais ruas, estrada ou caminhos…. E logo seguirei, ou tentarei, abraçando a estrada principal, a minha sanidade mental e caiação da alma;
Numa primeira rua, pode ser a da esquerda na encruzilhada, penso, logo no princípio, que podemos ser amados e, diz-se, podemos ser amados por boas razões e odiado por más razões…. Não aquiesço que podemos amar ou odiar com os mais diversos fundamentos ou razões…. Não podemos “arraçoar” ou odiar quando, neste caso, se afirma que se pensa com o coração… Quando se pensa com o coração, quando se elege esta asserção, tem que se admitir que apenas amamos e apenas existem boas razões…  Para o odio e más razões deixamos o juízo…
 Não pactuo com a afirmação pois as más razões podem ser as boas e, consequentemente, odiar apenas porque não conseguimos amar; ou amamos porque não alcançamos a malquerença das boas razões serem as más …. Estou a ajuizar um odeio por esta rua e, por tal, não a seguirei na sua extensão… Tomarei o sentido contrário, a direcção que permita voltar à encruzilhada… As razões são razões e não interessam (para aqui) os motivos que as tornam boas, más ou desinteressadas. Interessa, portanto, o desinteresse pela razão…. Não há razão para estar a escrever esta carta….
Numa segunda estrada cogito o que durante muito tempo estava diante de mim, o que qualquer pessoa normal veria, o que alguém que usasse o juízo, e não o coração, enxergaria apenas numa segunda vez e não se manteria cego uma eternidade.  
Os telefonemas por atender, as mensagens por responder, as idas mudas ao hospital, o silêncio sobre a doença, as não resposta às poucas questões que consegui colocar, tudo… Este tudo preenchia toda a estrada e eu, parvinho, percorri-a sem conseguir notar todo este preenchimento… Parvo! (eu claro)… Não sejas drama KING!!!! Juízo de merda…
Não há fundamento para estar a escrever esta carta….
Num terceiro caminho discorro todo o teu comportamento, aquela conduta que sempre te desculpei… Agora tenho a certeza que as desculpas vieram das más razões, não vieram do coração, da alma!
A minha cegueira levou a que o coração visse o “meu” afilhado e não a (verdadeira) pessoa que és…. O meu juízo ignorou as más razões; O meu coração dizia-me que eras assim, que assim eras graças ao teu pai, ao divórcio, à morte, à separação…. Que parvo! (eu claro) O juízo devia ter-me deixado ver que tu eras assim e que assim eras não graças ao teu pai, ao divórcio, à morte, à separação… és assim porque assim o és!
Não há causa para estar a escrever esta carta….
Num quarto e último trilho, pode ser o da direita na encruzilhada, apenas dou uns breves passos… Breves pois são estes são os mais difíceis de dar.
Os trilhos abrem-nos o coração e clarificam o juízo…. Ruas, estradas ou caminhos são projectados pelo homem, limitam e obrigam a determinada direcção; Os trilhos são gerados por seres vivos (e todos sabemos que existem muitos mais seres vivos que seres humanos), consoante as necessidades e não limitam ou obrigam a direcções.
Breves passos neste trilho pois é são os que mais custam… foram estes breves passos que, no dia em que fizeste 26 anos, me levaram a testar o teu trilho…. O não atender do telefone e o reagir a uma efémera publicação no Facebook levou-me a ver que és “farrapeiro” e não um “mau”…
Testei e vi o que realmente há para ver…. Vi-te a ti e não ao meu afilhado….  Odiei o que nunca vira e, como tal, a minha alma tem que partir.
Não há motivo para estar a escrever esta carta…. Há razão para, finalmente na estrada principal, passadas todas estas ruas, estradas, caminhos e trilhos chegar à conclusão que não há razão, amor ou odio que nos levou à cisão, afastamento….
É o momento ideal que, sem mágoas algumas, afirmar que não cabes nesta minha estrada e é em lágrimas que te abandono na encruzilhada. Cresceste, o que me apraz uma enorme felicidade, e como tal o meu papel de pequeno pai acabou. Deixo-te ir com os desejos das maiores fortunas.
Um padrinho é um pai, um padrinho é um pai que nos pode amar ou odiar…. Que nos tem de deixar partir na devida altura….
Escrevo aqui com a esperança que não leias…. E afirmo que apenas aqui escrevi para não me esquecer…e tenho esperança de não ter que aqui vir ler… Vivo sem medos, vivo apenas com o terror de os esquecer! Adeus ( o adeus não é apenas para a morte física, o adeus é para todos os fins…).


terça-feira, 20 de novembro de 2018


Sete… sete ANOS transpuseram a última publicação… sete anos deixaram marca, sete anos deixaram, deixam e deixaram (sempre!) saudades! Saudades de escrever? Sim…. Saudade de deixar de escrever (ao ponto de ter essas melancolias, de ter lágrimas nos olhos)? Claro que sim…. Saudades….. Saudades de me sentir amado? Sim, ainda mais do que escrever… Saudades (enormes) da minha mãe, saudades da única pessoa (a passos iguais com a avó paterna e do meu melhor – e começo a acreditar que único – falecido – há uns trinta anos – amigo Paulo Raposo) que se preocupava, que me  questionava e me observava….
Acreditando (sim, porque nunca irei discutir este assunto com alguém) na santíssima trindade, tive a felicidade, na terra, na missa efémera existência, no escasso período de felicidade,  de ter mãe/avó/Raposo no meu quotidiano, de os ter na minha felicidade, de viver e partilhar todos os seus momentos….  Mas essa felicidade pariu a desinfelicidade do desgosto pois os três, do nada morreram, desapareceram do meu e do respectivo quotidiano, deixaram-me desamparado, desprotegido…. Os três apenas vivem, nos dias de hoje, tal como a minha escrita, na minha percepção, nos meus sentimentos, nas minhas lágrimas….. No meu íntimo, no deserto dos meus conhecimentos….
Motivo de tristeza? Motivo de alegria (escrever)? Sim, tudo é justificado nos dias que vivo…; Diversos motivos… Diversos? Sim…. Motivos diversos que se resumem ao esbanjar tempo com simulados “amigos” que, curiosamente, se chamam “Zé” e moram na porta ao lado, pela tentativa de matar o tempo e respectivas preocupações com litros de álcool, com litros de cerveja, com tudo o que te possa toldar o pensamento e existência….. Com tudo o que nos faz sentir? Com tudo o que nos faz enganar?
São sete anos preenchidos com a merda/porqueira do dia-a-dia (acho que com o acordo não há hífens…..quero que se foda!); são seis/sete anos em que putos, tal como, os que servirão como exemplo, sobrinhos chamados Diogo, afilhados João Pedro ou filhas Teresa e Joana, crescem e desaparecem dessa merda de existência a que chamam (contra a minha vontade) de vida, deixando apenas saudades e lagrimas na vida….
Vida sim, existência não…. Vivemos porque respiramos,  existimos porque sofremos. Sofremos porque somos parvos; Parvos por nos preocupar, chorar ou lembrarmo-nos  de tal gente; Gente como, mais uma vez, como padrão, sobrinhos chamados Diogo, afilhados João Pedro, filhas Teresa e Joana ou irmãs (apenas pelo elo parental – pai – e não de sangue pois recuso qualquer semelhança com tais bestas) Isabel ou Beatriz; gente que não merecem a lembrança, quanto mais o meu sofrimento ou a minha saudade… Mas que, infelizmente, as têm…..
Sete anos em que em nada me metamorfoseei, transformei mas em que o sofrimento empubesceu; Sete anos em que o que me rodeia cresceu e eu me preservei…..Sete anos em que me adormeci em álcool, em distracções ….. Sete anos em que deixei de escrever mas que não consegui findar as saudades, ou a mágoa, instigadas pelas existência ou apedeutismo dos sobrinhos que sempre se chamarão Diogo, afilhados João Pedro, filhas Teresa e Joana  ou irmãs Isabel ou Beatriz….. É a vida…. Quantos mais anos passarão????????                                                                 


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Carta aberta ao meu afilhado [parte II]

Queria, mais uma vez, dizer-te pessoalmente. Queria informar-te olhos nos olhos, verde com verde. Mas continuo sem poder realizar esta minha aspiração.
Tenho assistido, ao longe, mas assim não tão longe como parece, às tuas confissões; Tenho lido muitas vezes “RAIVA ! RAIVA ! RAIVAAAAAAAAAAAAAA ! CARALHO !” ou “Foi tudo para o crlh ! / Estou farto desta vida ! Desta vida de merda ! / Adeus Portugal ! / Olá família infeliz ! / Quero desaparecer!”….
Não estejas farto da vida pois é o que de melhor tens. Se esta te abandonar, só nos remanescerá a saudade… A nós, porque a ti não sabemos… A vida nunca é merda: “Viver não custa, o que custa é saber viver”… Nunca digas adeus senão a quem morre: Portugal não acabou e está aqui, pacientemente, à tua espera…Não vale a pena desaparecer porque de ti nunca conseguirás fugir...
Tenho conhecido, também, grandes manifestações tuas de saudades… Nostalgias essas que só ampliarão com o passar do tempo. Todos nós sentimos saudades e temos que aprender a viver com elas… Quando a esta não te posso valer pois, infelizmente, ainda não descobri a cura;
A saudade sente-se sob formas, cores e cheiros distintos, é cantada pelo Fado… mas não cicatriza nunca. Fará sempre parte de ti e alguma cirurgia a conseguirá remover…
Este parece, pelo menos visto daqui, o teu dia-a-dia…
Demorei algum tempo para te escrever pois necessitavas de uma temporada de reflexão, ponderação sobre ti e sobre a tua existência.
Tudo o que dissesse na altura não seria ouvido… Agora que passou a tempestade…
Nestes assuntos não precisas de conselhos… Precisas de descobrir, encontrar a porta que te levará ao caminho, o caminho certo espero eu. Não te vou dar conselhos, apenas te vou dar a conhecer uma história que também me foi dada a conhecer numa dada altura da vida:

“No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebés.
O primeiro pergunta ao outro: - Acreditas na vida após o nascimento?
- Certamente que sim. Algo tem de haver após o nascimento!
-Talvez estejamos aqui, principalmente, porque nós precisamos de nos preparar para o que seremos mais tarde.
- Tolice, não há vida após o nascimento. E como realmente seria essa vida, se ela existisse? - Eu não sei exactamente, mas por certo haverá mais luz lá do que aqui..
- Talvez caminhemos com os nossos próprios pés e comamos com a boca.
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical alimenta-nos; Digo somente uma coisa: a vida, após o nascimento, está excluída - o cordão umbilical é muito curto!
- Na verdade, certamente, há algo depois do nascimento. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
- Mas nunca ninguém voltou de lá, para falar sobre isso. O parto apenas encerra a vida. E, afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.
- Bem, eu não sei exactamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamã e ela cuidará de nós.
- Mamã? Acreditas na mamã? E onde ela supostamente está?
- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e, através dela, nós vivemos. Sem ela tudo isto não existiria!- Eu não acredito. Eu nunca vi nenhuma mamã. Por isso, é claro que não existe mamã nenhuma!- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, podemos ouvi-la a cantar; ou sentimos como ela afaga o nosso mundo...Eu penso que só depois de nascidos a nossa vida será mais "real", pois ela tomará nova dimensão. Porque aqui, onde estamos agora, apenas estamo-nos a preparar para essa outra vida...”

Pensa e vê se achas o caminho… ele está à tua frente, não olhes para o lado. Este é o meu particular alvitre.
O que acreditas como certo pode ser apenas um ponto de vista, e o ponto de vista, felizmente para a Humanidade, pode ser mudado vezes sem conta ao longo da nossa vida.
Por vezes, não há nada melhor no mundo que o facto de estarmos errados...
Um saudoso abraço.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pessoas especiais

Quero que saibas, quero que seja do teu conhecimento.
Pretendo que seja uma boa notícia.
Quero que seja da tua experiência.
Quero que descubras que existem pessoas, que andam pessoas que alastram e distribuem luz por onde passam… Seres que, por força da sua labutação, devoção e paixão trazem energia e força a quem precisa… A quem precisa de viver, cozinhar, passar a ferro….
Quero que saibas, quero que seja do teu conhecimento.
Pretendo que seja uma boa notícia.
Quero que seja da tua experiência.
Quero que descortines que existem pessoas que se esforçam para te tirarem da escuridão e iluminar o teu dia-a-dia….
Quero que saibas, quero que seja da tua ciência.
Pretendo que seja uma boa notícia.
Quero que seja parte da tua experiência.
Quero te apresentar os funcionários da EDP….

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Prostitutas, plasma, cannabis, pavões e galos de luta??? A sério? Grande México!

Li, reli e voltei a ler. Tive grandes hesitações no que descobria…. Onde? Ah, no México…. Prostitutas, plasma, cannabis, pavões e galos de luta?? Não estariam os meus olhos, tal como a minha mente (por vezes) conspurcados e eu a ler “Prostitutas, plasma, cannabis, pavões e galos de luta” numa prisão em vez de “Prosternação [uma vez que quem está preso está infeliz (achava eu!!! – mas já vi que depende muito da cadeia…)], Plasmódio [em vez da massa de citoplasma com vários núcleos, da biologia, a “massa” dos muitos presos nas lotadas cadeias da América Latina], Camada [uma vez que imagino os presos como “Porções de coisas da “mesma espécie” estendidas à mesma altura sobre uma superfície”], Pavor [uma vez que, também, associo o grande temor ao factor de se estar enclausurado] e Galo-das-trevas [galo das trevas s. m. pl.
O candelabro de treze velas nos ofícios nocturnos da Semana Santa] num estabelecimento prisional do México?
Mas não… Segundo uma notícia da BBC Brasil (será congénere da BBC Portugal???), “uma inspecção surpresa a uma prisão no México descobriu dezanove prostitutas, cem televisões plasma, dois pacotes com cannabis, dois pavões e cerca de cem galos de luta, revelou a polícia mexicana nesta segunda-feira.”
Link
Se fosse preso (em Portugal) e tivesse acesso a esta notícia, faleceria com uma descomunal “dor-de-cotovelo”!
E estes “bens” essenciais, não esquecendo as duas “felizardAs”/privilegiadas(??) que “viviam” na ala masculina (como ocupariam estas senhoras o seu inacabável tempo????), estando preso! Agora imaginem o recheio do estádio do Chivas Guadalajara! Eu cá não consigo, mesmo admitindo a perversão ou degeneração mórbida (por vezes, não esquecer!) da minha mente.
Esta notícia (não sei porquê…), não me chocou! Mas fez-me pensar… Fez-me matutar muito e chegar a uma conclusão: Quero o meu país fora da Europa (territorial e politicamente), longe da Troika e dos interesses dos bancos, sem os seus brilhantes estadistas e acogulado à costa mexicana! [Assim manteríamos as nossas praias]. Matem (definitivamente em vez de a estarem sempre a macerar!) a Constituição da República Portuguesa e substituam-na pelo “preceito” do sistema prisional mexicano….
Nós, no México saberíamos viver e ser felizes! Mesmo sem estarmos presos….

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Vivirei num país do Hemisfério Sul??

Será esta a explicação? Será a incógnita, a explicação para o estado do país e da nossa sociedade? (até está escrito em espanhol e tudo!)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Carta aberta ao meu afilhado


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Queria dizer pessoalmente. Queria informar-te olhos nos olhos, verde com verde. Mas [não direi infelizmente pois cheio de infelicidades já eu estou atulhado] não poderei realizar esta minha aspiração.

Estás desterrado em nenhures, afastado das tuas raízes. O porquê não me importa pois ultrapassa o meu poder de decisão. Contra isso não posso fazer algo. É dos factos da vida que tenho de dar por exactos e incontestáveis. Por muito que queira não te posso valer nos assuntos terrenhos.

Cada vez mais tenho medo das palavras. Fujo a sete pés dos seus significados. Gostava, cada vez mais, do feito de me expressar pelo olhar e pelo toque. Pessoa disse que "É fácil trocar as palavras, Difícil é interpretar os silêncios!”. Mais uma vez recorrendo às doutas palavras deste meu aliado, não as vou trocar, vou escrevê-las para não ter que haver uma explicação do silêncio. Vou escrevê-las apenas para te informar. Para não subsistirem más acepções do silêncio, só para que saibas que não me esqueci de ti [nunca!].


Tiveste uma sucessão de desgraças na tua vida. Cedo começaste a dissaborear a vida. Mas esses assuntos não serão para ser enumerados numa carta aberta. E, aliás, assuntos esses que, cumplicemente, nos são sobejamente conhecidos.

Gostaria de te ajudar de outras maneiras, mas não posso. De pouco te posso valer neste momento. Não posso porque a cobardia de quem és legalmente depende iria usar todos os meios para me prejudicar. Usaram-me em proveito próprio, para se atacarem e taparem com a merda que cada um escolheu para viver. “Deus existe e é notado nas mais pequenas coisas”, escreveu alguém que na minha cabeça se encontra incógnito. Da moral desta triste história resultaram duas percepções. “Deus” manifestou-se de duas maneiras distintas, positiva e uma negativamente; A pronúncia positiva é que conheci a verdade sobre duas pessoas que tinha por amigas (mas afinal só durou enquanto me conseguiram usar). Fernando Pessoa disse que existem outros tipos de morte e precisamos de morrer todos os dias. Os teus pais foram, para mim, mais uma morte. Morte que era necessária em prol da verdade e, deste modo, que não leva a que lhes guarde qualquer rancor. Mas a única coisa que lhes agradeço, neste momento, foi concederem-me o privilégio de ter, na minha vida, um ser maravilhoso, um afilhado que usa o teu nome. Sem qualquer rodeio, e para que não restem dúvidas, terem permitido o prazer grandíloquo de poder comparticipar a vida contigo, com a tua amizade.

O lugar ocupado por eles os dois, na minha vida, serão, certamente, ocupados por outros que o mereçam. Disponibilizo esse espaço para ti, exclusivamente, caso o queiras!

Espero que os filhos, um dia, não tenham de pagar pelos pecados dos pais. E, sendo uma das infelicidades que ainda não me atulhou, lamentavelmente os filhos continuam, nos dias que correm, a saldar (muito caro, por vezes) os tropeções dos pais.

O aspecto negativo foi a perda do local onde sabia que te podia encontrar, onde te podia visitar. Mas espero que, muito brevemente, este facto não passe de mais uma das minhas mortes.

Mas tudo isto é conversa para acabar quando fores mais maduro.

De tudo, diz Pessoa, ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre a começar, a de que precisamos continuar e a de que seremos interrompidos antes de terminar e que, portanto, devemos: Fazer da interrupção um caminho novo; Da queda um passo de dança; Do medo, uma escada; Do sonho, uma ponte; Da procura, um encontro.

Em resumo, tomes as opções que tomares, seja qual for o rumo a que apontares o teu futuro, mesmo que as palavras, o olhar e o toque fiquem proibidos entre nós, terás sempre um povoado no meu coração e um lugar no meu espírito. Terás sempre o meu apoio para o teu caminho, dança, escada ou ponte que possam surgir na tua vida que espero longa, saudável e satisfeita.

Do teu para sempre,

Padrinho com um grande abraço

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O meu será meu?

Será o sentimento de posse um valido na nossa consciência? Eu cá, e falando pela que melhor conheço – a minha -, atrever-me-ia a afirmar que o sentimento de posse é a sensibilidade mais forte do meu conhecimento.
Não a posse física de outra pessoa – será escravidão – mas a posse e respeito dos sentimentos que nos une a essa pessoa; Não a posse da liberdade de outra pessoa – que será só daquela – mas a sintonia de ambas as “independências”; A posse, neste caso, será o privilégio de ser presenteado com o sentimento (seja ele qual for) de outrem. Logo se é presente é meu e de mais ninguém!
Os sentimentos da outra pessoa, principalmente os que me tocam directamente, gosto de os considerar meus e, de um modo intransigente, exclusivos à minha consciência.
Uma coisa que me faz espécie é, nos casos onde existem laços insignificantes entre as pessoas se usem palavras despropositadas a estas situações.
O exemplo modelar desta situação é o uso da palavra “minha” que, como se não bastasse só por si, surge amplamente ligada a “querida”.
“Minha querida” porquê se não o é?
“Minha querida amiga” já é uma expressão a ser louvada. Seria se não vivêssemos uma amizade que se estreita ao Facebook. E neste caso não sei se será uma “amizade” ou uma “montra de egos, de troféus” de seres liliputianos que apenas desejam o que é dos outros que, certamente, não é [e esperemos que nunca seja]do seu usufruto.
Qual a necessidade de apelar ao ego de uma pessoa, com estas falsas expressões, se, certamente, a pessoa visada já escolheu e permitiu quem possa condescender ao seu intimo?
Beijinhos, beijocas e derivados é um outro caso modelar desta estupidez generalizada: “beijos” é, geralmente, aceitável [e no plural pois são vulgarmente dados aos pares sendo que, no singular, será dado nos lábios]; “beijinhos” dão-se a uma criança ou a um animal [geralmente quem não tenha (ainda) um intelecto muito desenvolvido] e “beijocas” a uma pessoa que partilhe a nossa consciência.
Acho que cada vez mais o respeito, pelo que é dos outros e não nosso, se desvanece nas nossas relações pessoais.
Porquê este atentado constante ao que não é nosso?
Como sempre ouvi que “Deus existe nos pormenores” estarei eu a “over react”?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Honestidade

Mais uma vez (e são inúmeras, incontáveis) continuo à toa. Continuo sem perceber se a vida é exigente ou se sou eu que a torno impertinente. Continuo na retumba dos meus pensamentos… Ou será que são os meus pensamentos que ribombam a minha vida?
Continuo à procura, persisto nestas minhas palavras. Valerá a pena? Segundo o falecido “valerá sempre a pena quando a alma não é pequena”. Tinha razão ou não? Não importará pois também ele morreu.
Se me pedissem para me definir como pessoa seria incapaz porque, primeiro, não devo caber nesse grupo e, segundo, por muito que arriscasse acho que não alcançaria nunca uma definição. Mas uma coisa que tenho certa é o de querer o parco. Pouco mas que afinal não o será… Acho que quero o irrealizável.
Mas como, e mais uma inúmera vez, não consigo aclarar a minha existência ao mundo, vou mudar de astúcia, vou encarnar uma personagem, vou contar a minha vida como se de uma fábula se tratasse. A vida não que já conta com mais de três décadas; Vou contar o que me chateia, vou enumerar o que acho responsável por esta minha demência; Vou encarnar o João (um qualquer que não um dos muitos que conheço ou conheci); Um João que não existe, um João parecido comigo (talvez logo daqui não se veja que não existe); vou… vou-me calar e passar à história:
A Lua amputava os cantos mais sombrios da praceta. A Lua, ao contrário do seu irmão Sol, mostrava as duas verdades da praceta do João. O Sol reconfortante e saudável, pelo menos aparentemente, apenas mostra um lado da realidade, da praceta. Apenas realça o visível.
A Lua, com a sua alma feminina, e ao contrário do seu irmão, mostra a ambivalência da praceta do João. Mostra o seu lado escuro e o seu lado brilhante. Mostra a realidade da praceta do João.
Daqui a história se passar de noite, se passar pelas 21:15m do dia 09 de Fevereiro do ano 2010. Neste dia e a esta hora para a minha história se realizar; para poder ter dois lados: o sombrio e o da luz. Para ter o duplo significado do se pretende e do que se escreverá nesta história.
Para apelar ao lado feminino, ao lado que me marcou, ao meu lado morto. À minha mãe ou avó que me criaram, educaram e que se preocuparam. Ao único lado que me proporcionou o amor incondicional, ao amor que não obrigava regresso. O amor que é raro, que está em extinção.
A praceta encontrava-se deserta, desprovida de vida. O prédio, amarelo e branco na sua fachada, encontrava-se de janelas ocultas, ocultas e destituídas de existência. O silêncio da Lua entusiasmava ao sono, à aparente morte. As árvores, inertes, projectavam as suas trevas, a sua inexistência, na calçada. A calçada acarinhava o lixo, também ele finado, e abafava o andar de quem já se deitou, de quem espera a ressurreição do amanhã, do sol. Os cães não ladravam e, recolhidos do frio, supunham o descanso. Estava frio. Um frio típico de inverno, um frio que se sente mas que não se vê.
João, sozinho, como sempre, era o único que vivia, que respirava. Os seus pensamentos retumbavam, procuravam o motivo. Procuravam a verbalização dos seus sentimentos. Ribombavam, em vão, à procura do sexo dos anjos.
Há uma luz que se acende na fachada em frente à sua. Inocentemente? Não! Distraiu os pensamentos do João. Arruinou a sua residência, alterou completamente o seu contexto: A praceta voltou, tal como o seu prédio, à vida. A Lua perdeu o seu silêncio, as árvores deixaram de se projectar, o lixo mostrou-se iluminado e os cães ladraram. Continua um frio, um frio que se sente.
Os pensamentos do João, desenraizados do encanto inicial, continuam à procura do sexo dos anjos. Procuram martirizar o João. Este alento da janela, desenraíza os pensamentos do João. Permite a sua verbalização ou a verbalização das suas dúvidas. Será o que peço muito? Pensa o João. Será desumano o que aspiro? Acho que não assegura-se o João. Ou serão os meus pensamentos simples mas inaudíveis? Consome-se o João.
João sente e crê que apenas precisa de lealdade. Honestidade em sua casa, na sua vida. Do mundo João apenas espera paz. Do seu mundo João aspira à honradez. Será muito? Será o impossível espelhado nos pensamentos de João?
A luz apaga-se. A praceta volta ao vazio. O prédio eclipsa as janelas. O silêncio da Lua encoraja ao sono. As árvores, inertes, meditam a sua inexistência. A calçada aguarda, de novo, a ressurreição. Os cães calam-se e, recolhidos do frio, retomam o descanso. Estava frio. Um frio típico de inverno: sente-se mas não se vê.
Os pensamentos do João não ribombam, mantêm-se. João precisa de honestidade.
João precisa de chorar. Precisa muito. Mas precisa, também, de quem lhe enxugue as lágrimas. Valerá a pena chorar se as lágrimas, após percorrer todo o seu semblante, morram ingloriamente, estateladas no chão? Valerá a pena chorar se não existir mão alheia que as ampare? Que as provenha de vida?
Mas João só consegue chorar sozinho. E João chora muito, compulsivamente e horas a fio. Porquê? Para nada… A mão ou a honestidade não se encontram perto do João. Estará João sozinho? Porque ribomba o seu pensamento? Porque se mantém absorto na sua teimosia? Para que quer uma mão se tem as suas duas?
João, tal como a Lua, tem presente a ambiguidade da vida: a escuridão e a luz. João é consciente que as suas mãos precisam de uma outra para rodear, abraçar, para a tornar sua. Se unir as suas duas mãos, João, nunca conseguirá preencher o vazio que se instala entre estas. Se envolver uma terceira mão, João já não terá que se preocupar com o vazio, com o oco. Envolvendo uma outra mão Conseguirá João aquietar os seus pensamentos?
Três mãos unidas preencherão o vazio e o João, deixando de sentir o frio, poderá adormecer os seus sentimentos. O vazio preencheu-se com amor, honestidade. Será pedir muito? Apenas uma mão… João já não pede mais.
Será autobiografica esta história? Esperemos que não… Para o meu bem.