Chorei… sim chorei! Mas, espera, não posso chorar…
se choro sou “drama queen” e, se digo a alguém que chorei, estou a ser intrusivo….
Espera, espera mais uma vez; já são motivos a mais…. Escolhe um por dia….
E como não há duas sem três, aqui vai a escolha do
dia de hoje: Carta aberta ao meu afilhado (o primeiro) [parte III].
Espera, espera mais uma outra vez; Estou a
perder-me, a transformar-me numa “drama queen” (se fosse um drama king era menos
inquietante), estou a perder-me por matizados caminhos…. Agora é que é, sem
desvios (deixando-os para um outro dia), só com um caminho: Carta aberta ao meu
afilhado (o primeiro) [parte III]:
A chegada de qualquer um a este mundo é sempre glorificada
por alguém ou vexada por alguma pessoa…. Mais do que ninguém fui o que mais
glorificou o teu advento, alguém menos que eu se sentiu feliz com o anúncio da tua
chegada…
Mesmo escolhendo só por este caminho, este não é o
correcto, este não é o meu caminho…. Logo,
esqueçam o advento, a importância, a tua (meu afilhado) chegada a este mundo.
Não interessa os motivos que possibilitaram o meu apadrinhamento, esqueçamos o
teu lugar na minha alma, abandonemos as encruzilhadas que nos separam….
Esqueçamos esta merda toda e vamos ao que importa:
Um padrinho é um padre (pai em mirandês) pequeno (-inho),
um padrinho é um protector, é um guia imaterial (se batermos à porta da religião), é alguém
que, tal como um pai “grande”, nos pode amar ou odiar….
Este meu caminho vai mesmo ter que se dividir,
encruzilhar…. Não consigo pensar em linha recta, logo vamos, eu e o pensamento,
cruzar duas ou mais ruas, estrada ou caminhos…. E logo seguirei, ou tentarei, abraçando
a estrada principal, a minha sanidade mental e caiação da alma;
Numa primeira rua, pode ser a da esquerda na
encruzilhada, penso, logo no princípio, que podemos ser amados e, diz-se, podemos
ser amados por boas razões e odiado
por más razões…. Não aquiesço que
podemos amar ou odiar com os mais diversos fundamentos ou razões…. Não podemos “arraçoar”
ou odiar quando, neste caso, se afirma que se pensa com o coração… Quando se
pensa com o coração, quando se elege esta asserção, tem que se admitir que
apenas amamos e apenas existem boas razões… Para o odio e más razões deixamos o juízo…
Não pactuo
com a afirmação pois as más razões podem ser as boas e, consequentemente, odiar
apenas porque não conseguimos amar; ou amamos porque não alcançamos a malquerença
das boas razões serem as más …. Estou a ajuizar um odeio por esta rua e, por
tal, não a seguirei na sua extensão… Tomarei o sentido contrário, a direcção
que permita voltar à encruzilhada… As razões são razões e não interessam (para aqui)
os motivos que as tornam boas, más ou desinteressadas. Interessa, portanto, o desinteresse
pela razão…. Não há razão para estar a escrever esta carta….
Numa segunda estrada cogito o que durante muito
tempo estava diante de mim, o que qualquer pessoa normal veria, o que alguém
que usasse o juízo, e não o coração, enxergaria apenas numa segunda vez e não
se manteria cego uma eternidade.
Os telefonemas por atender, as mensagens por
responder, as idas mudas ao hospital, o silêncio sobre a doença, as não
resposta às poucas questões que consegui colocar, tudo… Este tudo preenchia toda a estrada e eu,
parvinho, percorri-a sem conseguir notar todo este preenchimento… Parvo! (eu
claro)… Não sejas drama KING!!!! Juízo de merda…
Não há fundamento para estar a escrever esta carta….
Num terceiro caminho discorro todo o teu
comportamento, aquela conduta que sempre te desculpei… Agora tenho a certeza
que as desculpas vieram das más razões, não vieram do coração, da alma!
A minha cegueira levou a que o coração visse o “meu”
afilhado e não a (verdadeira) pessoa que és…. O meu juízo ignorou as más razões;
O meu coração dizia-me que eras assim, que assim eras graças ao teu pai, ao
divórcio, à morte, à separação…. Que parvo! (eu claro) O juízo devia ter-me deixado
ver que tu eras assim e que assim eras não graças ao teu pai, ao divórcio, à
morte, à separação… és assim porque assim o és!
Não há causa para estar a escrever esta carta….
Num quarto e último trilho, pode ser o da direita na
encruzilhada, apenas dou uns breves passos… Breves pois são estes são os mais difíceis
de dar.
Os trilhos abrem-nos o coração e clarificam o juízo….
Ruas, estradas ou caminhos são projectados pelo homem, limitam e obrigam a
determinada direcção; Os trilhos são gerados por seres vivos (e todos sabemos
que existem muitos mais seres vivos que seres humanos), consoante as necessidades
e não limitam ou obrigam a direcções.
Breves passos neste trilho pois é são os que mais
custam… foram estes breves passos que, no dia em que fizeste 26 anos, me
levaram a testar o teu trilho…. O não atender do telefone e o reagir a uma efémera
publicação no Facebook levou-me a ver que és “farrapeiro” e não um “mau”…
Testei e vi o que realmente há para ver…. Vi-te a
ti e não ao meu afilhado…. Odiei o que
nunca vira e, como tal, a minha alma tem que partir.
Não há motivo para estar a escrever esta carta…. Há
razão para, finalmente na estrada principal, passadas todas estas ruas, estradas,
caminhos e trilhos chegar à conclusão que não há razão, amor ou odio que nos
levou à cisão, afastamento….
É o momento ideal que, sem mágoas algumas, afirmar
que não cabes nesta minha estrada e é em lágrimas que te abandono na
encruzilhada. Cresceste, o que me apraz uma enorme felicidade, e como tal o meu
papel de pequeno pai acabou. Deixo-te ir com os desejos das maiores fortunas.
Um padrinho é um pai, um padrinho é um pai que nos
pode amar ou odiar…. Que nos tem de deixar partir na devida altura….
Escrevo aqui com a esperança que não leias…. E afirmo
que apenas aqui escrevi para não me esquecer…e tenho esperança de não ter que aqui
vir ler… Vivo sem medos, vivo apenas com o terror de os esquecer! Adeus ( o adeus
não é apenas para a morte física, o adeus é para todos os fins…).