Intitulatio [dar-se a si próprio um título].

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Exteriorização de ...


Hoje, no uso de uma das tarefas inerentes à minha profissão, atendi mais uma pessoa ao balcão. Até aqui não há nada de especial. O assunto era apenas mais um no meio dos milhares que por aqui morrem. Idêntico a todos os outros.
O que me cunhou foi a pessoa por detrás do assunto. Os assuntos aqui apenas diferem no seu valor, sendo, deste modo, chatos e nada dignos de reparo. Chatos por serem impessoais, descaracterizados por não possuírem um semblante.
Mas este sofreu uma metamorfose deixando de ser impessoal e adquirindo uma cara.
E afectou-me. Afectou-me a cara e, particularmente, os olhos que a caracterizam.
Não sendo uma pessoa especialmente ou particularmente harmoniosa tinha uns olhos de um azul próprio, raramente visto. Mas esse azul tornou-se notório, não pela côr, mas sim pela falta de luz, brilho, como se não espelhassem qualquer alma. Eram tipo os olhos de vidro, sem a inerente fulgência deste, de Nesperennub, um sacerdote do templo de Karnak, que, recentemente, teve seu sarcófago aberto. Isto claro,a história do sarcófago, no "British Museum".
Será que já repararam que o dito museu faz exposições de tudo e mais alguma coisa que não seja “british”? Mais isto é outra história. Uma história para outro dia.
Voltando à fábula dos olhos.
Aquela alma, desprovida de qualquer força, brilho ou emoção permanecia perente mim, tal e qual como se, fisicamente, não existisse. Um mono, um autêntico estafermo.
A razão de tal estado bizonho? Um par de calças que a levou a contrair uma divida em seu nome, em troca do velho e desejado compromisso do sexo, e a consequente fuga, do par de calças, para Londres. (Talvez para ver a múmia de Nesperennub!!!). A consequência? O cataclismo pessoal que inclui a privação de trabalho, a caída nos psicotrópicos e a perda do brilho que converteriam os seus olhos num dos mais agradáveis que os meus alguma vez pasmaram!
Deste modo, o assunto deixou, de todo, de ser impessoal e descaracterizado.
Qual será a pessoa, que não um filho, que merece todo este sofrimento pessoal ao ponto de os olhos perderem o seu fulgor? Se souberem alertem-me, P. F.!