Intitulatio [dar-se a si próprio um título].

sábado, 27 de dezembro de 2008

O inicio de um conto...


- Ali, à esquerda!
- Onde?
- Será possível, suspirou Martim, que não consigas distinguir o branco do preto? Estás a ver as pedras pretas?
- Quais?
- Todas… As que criam esta dupla muralha! Esta muralha, idêntica aos muros de pedra rectangular que ladeiam as casas, com leve inclinação para dentro, de superfície lisa e com as pedras dispostas concentricamente? A que por ora nos serve de banco?
- Ah, sim… A muralha…
- Ali à esquerda estão, pouco afastadas entre si, duas pedras rectangulares brancas que, por o serem, se distinguem facilmente das que as rodeiam… São do mesmo formado que as pretas mas são muito mais claras!
- Ah?


Martim, sentado sobre o frio da dupla muralha, irrita-se com o amigo e decide adaptar o seu discurso a este. Será que perceberá com uma imagem o que não consegue por palavras? Esteuã é um ser deliciosamente ingénuo, pensa Martim, de tal forma que parece ter a idade de Joana, a irmã mais nova de Martim.
Se a Joana, com os seus parcos três anos de vida, concebe quase todo o seu mundo com os olhos, Esteuã também o perceberá. Pelo menos assim espera Martim.
- Espera…Vou descer… mas antes dá-me o teu cajado!
Esteuã, contra a sua vontade, anuiu e passou o cajado para a mão do seu amigo. Não gostava de se separar do seu objecto mais precioso. Desconfiava do mundo no que diz respeito ao objecto que zelava pelo seu sustento. Herdado do pai e de um número incerto de antepassados, o cajado permitia o amparo da sua mãe, o alinhamento do gado pelas pastagens e inumeráveis realidades que consentia à sua vida.
- Para que o queres?
- Não sejas tolo. Bem sabes que não se pode tocar-lhes!
- Não?!!!! Porquê?
- Espera um pouco. Depois de te ser possível distinguir o branco do preto contar-te-ei, mais uma vez, a bendita lengalenga…
- Toma cuidado! Não quero que nada lhe aconteça…
- Abençoado pau que goza de tanta protecção. Não te preocupes que não lhe acontece nada.
Martim, tirando a roupa, salta para um dos cursos de água que contornam as muralhas da aldeia e, segurando o cajado na sua mão esquerda, dirige-se ao seu objectivo. Quando se encontra perto, trava a marcha e, num feito de malabarismo, aponta o cajado para um das pedras e, suavemente, desliza a sua ponta para a outra. Regressa.
- Toma lá a vara… Já sabes quais são?
- Agora sim…
- Finalmente!
- Só falta descobrir o motivo pelo qual não lhe podes tocar…é por serem brancas?
Martim, habituado à lorpice de Esteuã, pareceu não ouvir a pergunta. Seria mais uma das muitas brilhantes da criação do seu melhor amigo.
- Não te lembras do motivo?
- Não.
- Nem uma pequena parte?
- Nada…
Martim, fechando os olhos, talvez pelo mesmo motivo que os galos os fecham para cantar, suspira.
- Como te contei, vezes sem conta, as pedras brancas, e não todas as outras, são as tampas de dois vasos misteriosos aí depositados por entre as pedras negras que erguem as muralhas. O nome da depositante já ninguém recorda, assim como ninguém lembra o tempo em que as outras pedras foram alinhadas para oferecer protecção às nossas casas. Apenas se sabe que a dona dos vasos, senhora de grande beleza e abastança conseguiu a protecção do deus Mars Cosus que, caso não te recordes, é o deus da guerra. Com essa protecção a bela senhora, sem marido ou família e conduzida pela sua avareza depositou toda a sua fortuna num dos vasos de tampa branca. À troca de favores a sedutora conseguiu que Mars Cosus depusesse no outro vaso uma grande maldição. Este anátema é tão forte que causa morte imediata a quem o abrir e grandes malefícios a todos os que estão ligados, por qualquer tipo de laço, ao violador.
Por este motivo não houve alguém, aldeão de Guia ou visitante, que ousasse desafiar o poder do deus mesmo quando a recompensa, para o sortudo, é um tesouro imenso….
Esteuã, meio adormecido pela história, pergunta para que é que ela precisava de um marido. A sua mãe havia perdido o seu e, segundo as suas palavras, apenas fazia falta para dar uns açoites a Esteuã. Por analogia se a donzela não tinha filhos não precisava de um marido para os castigar, tal como a sua mãe possuía a necessidade oposta.
Martim, possuidor da mesma idade de Esteuã, considerando-se tão bem informado como o seu amigo quanto aos assuntos dos mais velhos, apenas respondeu um vago “sei lá para que serve um marido”.
Martim contava tudo ao seu amigo e se Esteuã não sabia era porque aquele ainda não o descobrira ou este o tinha esquecido.
- Mas, Esteuã, se calhar está relacionado com o que a bela senhora fez a um dos muitos pretendentes, a maneira como tratou este seu prometido…
- Terá lhe dado com o cajado? Se calhar, como não tinha filhos, tratou de o despachar!
- Esteuã, não sejas parvo! Achas que uma senhora com posses tinha a necessidade de um cajado? Achas que ela tinha vontade de andar, pela serra, a guardar animais dos lobos ou a encaminhá-los para a pastagem?
- E porque não? Achas que ela alimentava os seus animais com o ouro da sua fortuna ou terá apenas deixado o pobre gado morrer à fome? Será que era dona de uma plataforma, ou mesmo de todas, e tinha sempre a porta do curral fechada para impedir a entrada dos lobos?
Martim, desesperado pelo rumo da conversa contemplou, como se a ganhar fôlego para os argumentos de seu amigo, as construções a que Esteuã se referia. Estas construções, dentro das muralhas de Guia, a sua aldeia, não passavam de alinhamentos implantados numa zona não residencial e que servia para guarda dos animais. Para resguardo dos animais, que parte deles, estavam à guarda de Esteuã. Martim relembra que os animais se encontram sob a protecção das muralhas devido à importância destes na subsistência da aldeia. A carne dos animais domésticos - porcos, cabras e cavalos -, o leite e outras gorduras constituíam a base da alimentação, estes animais eram necessários para a faina agrícola e as suas peles seriam trocadas por cerâmica, sal, instrumentos e adornos, vestuário, fabrico de armas e barcos. Terá alguma vez Esteuã alcançado a importância do seu ofício?
- Para de divagar! Se já estivesse seco da imersão a que a tua estupidez me forçou juro que fugia terra acima até encontrar a porta de casa e a conseguir fechar. Eu tenho algum cajado? Tenho?!
- Acho que não… Acho que se tivesses algum teu não passavas a vida a pedir o meu emprestado… Estupidez?!!
- Desculpa-me, já devia estar habituado a ela… De tal modo que a deveria ignorar. Já algum dia me viste a pastar gado?
- Já! Quando vais comigo…
- Merda! Sozinho?
- Não, sozinho não… Se te tivesse visto sozinho era porque estava ao pé de ti… Se estava ao pé de ti não estavas sozinho…
- Para, Esteuã! O que eu queria que compreendesses era que a senhora não era pastora… Se eu, filho de um mestre do bronze, não me dedico à pastorícia do meu gado, deixo estar tarefa para ti, quanto mais uma senhora com uma fortuna incalculável…
- …Se andavas a pastar tinhas a companhia do gado…
Martim, em voz alta, alheio aos pensamentos de Esteuã, recorda a história da donzela que, em idade casadoira, tinha um pretendente. Um pretendente que acabou por ser corrido com duas chapadas ao cometer a ousadia de se gabar, em público, de ter recebido da donzela um beijo na face.
- Então quer dizer que o meu trabalho não é nada solitário… Ando sempre acompanhado…
Martim finaliza a história comentando que, pelo facto de a donzela ter oferecido estas duas bofetadas, ficou sozinha para o resto da vida pois nunca mais um mortal atrevera a aproximação.
- Será que estou ou não sozinho? …
- Ainda continuas na tua, Esteuã? Pois olha que não te volto a contar a história… Se estás ou não sozinho só as tuas cabras te podem responder!
Martim, verificando que já estava enxuto, cobriu-se e começou a caminhar muralha fora.
- Espera, Martim, espera por mim!
- Já fechaste a porta às cabras?
- Não…
- Então vai cumprir a tua obrigação… Vemo-nos depois da ceia.
Esteuã, do seu ponto de observação privilegiado observa o seu amigo Martim a afastar-se, a saltar da muralha e a subir em direcção a casa. Absorvido pelo seu pensamento, Esteuã continuava intrigado se teria ou não a donzela batido no seu pretendente com o báculo.
- Esteuã, olha as cabras!
- Já vai, já vai… E ainda te vou apanhar!
Martim, fatigado de explicações infrutíferas e com necessidade de alimento, ao ouvir estas palavras desata a correr em direcção de casa. Afinal já não estava molhado e, assim, já não possuía qualquer desculpa para não procurar o refúgio de sua casa, a segurança da sua porta, enfim, a fuga de Esteuã.
- Martim, és tu?
- Sim, mãe…que me queres?
- Vê, por favor se consegues calar as tuas irmãs… Desde manhã que as ouço e estou quase a deitá-las ao forno do teu pai!
- Não me apetece… Basta-me o Esteuã…Onde estão os avós?
- Foram apanhar fruta… devem ter ido para o lado de Banhos pois saíram de manhã e ainda não voltaram.
- De Banhos?? Não fica um bocado longe para ir à fruta?
- Estou a brincar!... Cala-me essas miúdas! Se eles tivessem ido para os lados de Banhos eu pedia-lhes para deixar as tuas irmãs perto da Pedra Escrita…
- Boa ideia, mãe! Ainda os podemos convencer a ir para esses lados!
- Martim! Ao fim de catorze anos a viveres comigo ainda não sabes quando brinco?
Catalina, mãe de Martim, esboça um pequeno sorriso e encaminha-se para a porta da rua.
- Onde vais, mãe, não me deixes só com elas!
- Olha está aqui o Esteuã… Olá. Esteuã… Apenas vou chamar o teu pai para a ceia.
Martim corre para a porta e corre o ferrolho. Encostado à porta Martim vê-se entre pesadelos: De um lado da porta está Esteuã e do outro Teresa e Joana, suas irmãs, “ao estalo”. Martim, com tamanha barulheira, não consegue distinguir os berros das irmãs dos murros de Esteuã na porta. Qualquer dia teria que se atirar da muralha pois apenas a companhia dos deuses o podiam salvaguardar destes mafarricos.
- Pronto, Esteuã, desisto, podes entrar!
Esteuã entra e, tal como sempre, tal como se fosse a primeira vez percorre a casa com os olhos. Esteuã gostava da casa de Martim. Era parecida com a sua mas tinha algo diferente, algo que a distinguia da casa onde vivia. À primeira vista ambas tinham planta circular, telhados em colmo, a lareira ao centro e o banco em pedra que, seguindo encostado o traçado das paredes, era circular…
Analisando, à segunda vista, a diferença era mesmo o banco…
- Foi com o cajado, não foi? Eu sei que foi…
-Não, não foi! As bofetadas dão-se com a mão e não com um pau…
Será para continuar? Preciso do vosso apoio!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

De casa de gato, não sai farto o rato.



“Mago respirou fundo. Abriu o nariz e encheu o peito de ar ou de luar, não podia saber ao certo, porque a noite era clara como o dia e parada como uma montanha. Mas fosse de frescura ou de luz a onda que bebera num trago, de tal modo o inundou, que em todo o corpo lhe correu logo um frêmito de vida nova. Esticou-se então por inteiro, firmado nas quatro patas, arqueou o lombo, e deixando-se ficar assim por alguns instantes, só músculos, tendões e nervos, com os ossos a ranger de cabo a rabo. Arre, que não podia mais! Aquele mormaço da sala dava cabo dele. Deixava-o sem acção, bambo, mole e morno como o cobertor de papa onde dormia. A que baixezas a gente pode chegar! Ah, mas tinha que acabar semelhante degradação! Não pensasse lá agora a senhora D. Maria da Glória Sância que estava disposto a deixar-se perder para sempre no seu regaço macio de solteirona. Não faltava mais nada! E, se lhe restavam dúvidas, reparasse no que estava a acontecer naquele momento: ela a ressonar sozinha, na cama fofa, enquanto ele enchia os pulmões de oxigénio e de liberdade. É certo que a deixara primeiro adormecer, e só então, brandamente, deslizara de seus braços para o tapete e do tapete para a rua, através do postigo da cozinha. Uma questão de delicadeza, apenas. Porque, afinal, não havia vantagem nenhuma em fazer as coisas à bruta e ofender quem só lhe queria bem... Que diabo, sempre a senhora D. Maria Sância, a que até um fio de oiro lhe comprara para o pescoço! Que, considerando bem, por essas e por outras é que chegara àquela linda situação...” (Torga, Miguel, Bichos, 15ª edição, Coimbra, 1985)

Teremos, nós, tal como Mago, uma D. Maria da Glória Sância nas nossas existências? Será universal ou apenas particular? Para todos? Apenas para eleitos? Uma D. Maria da Glória Sância que, mesmo contra e atentando a natureza, tolda a vida….
Algo me leva a querer que todos nós teremos uma D. Maria da Glória Sância nas nossa vidas. Mas creio que existirão também duas D. Maria da Glória Sância divergentes: A de Mago e a sua discordante, a sua oposta. A D. Maria da Glória Sância boa e a D. Maria da Glória Sância má.
Será uma questão de sorte… Sorte de ser um Mago ou fortuna de ser um “Lambão” ou uma “Faísca”.
“Aquele mormaço da sala dava cabo dele.” O mormaço dá cabo de toda a gente… Mas quem o escusa? mesmo contra e atentando a natureza??? Se há alguém, esse alguém que atire a primeira pedra…
Quem estará correcto? Mago ou Lambão ou a Faísca?
Eu cá acho que era o Baltazar! Que nunca deixou algum grato farto.

“Chronica D’El Rei D. Diniz”




A “Chronica do muito alto, e muito esclarecido Principe D. Diniz”, edição de 1912 da Bibliotheca de clássicos Portuguezes , Volume LXXI, Lisboa, Escriptório, é uma obra “fielmente copiada do seu original que se conserva no Archivo Real da Torre do Tombo”, tal como se pode ler nas suas primeiras páginas.
Esta edição, impressa em dois volumes, subdivide-se em trinta e dois capítulos, sendo que doze cabem no primeiro volume e vinte no segundo e termina com um índex de coisas notáveis decorridas no reinado de D. Dinis.
Nas suas páginas iniciais esta obra é oferecida a D. João V e a D. Francisco Xavier de Menezes (quarto conde da Ericeira). Após o prólogo e as necessárias licenças obrigatórias à data da sua publicação, surge a crónica de Rui de Pina. A obra surge dividida e titulada do seguinte modo:

Índice
Geral
[Anterrosto: 1.º vol.] – página 1
[Rosto: 1.º vol.] – página 3
[Rosto: facsimile da edição de 1729] – página 5
[Dedicatórias] – páginas 7 a 9
Prologo – páginas 10 e 11
Licenças – páginas 12 e 13

Capítulo I: Como El-Rei D. Diniz sendo Ifante, foi levantado por Rei, e obedecido, e das virtudes que teve – páginas 14 a 16
Capítulo II: Como El-Rei D. Diniz cazou com Dona Isabel, filha del-Rei D. Pedro Daraguam, e da Rainha Dona Constança, e de suas grandes virtudes, e santidade – páginas 17 a 31
Capítulo III: Do Fundamento, e cousas, que ouve pera El-Rei D. Diniz aver algumas Villãs, e Castellos de riba Dodiana, que forão de Castella – páginas 31 a 33
Capítulo IV: Dos filhos legitimos, que El Rei D. Diniz ouve da Rainha D. Isabel, e assi doutros bastardos – páginas 33 a 35
Capítulo V: Do desacordo, que ouve entre El-Rei D. Diniz, e o Ifante D. Affonso seu irmão – páginas 35 a 40
Capítulo VI: Do que succédeu do Casamento do Ifante D. Affonso, filho del-Rei D. Diniz, e do Ifante D. Fernando, filho del-Rei D. Sancho de Castella – páginas 40 a 49
Capítulo VII: Como El-Rei D. Diniz entrou em Castella, e da crua guerra, que de uma parte e da outra se fazia – páginas 49 a 51
Capítulo VIII: Dos grandes males, e danos que de um Reino a outro se faziam, e dalguns Luguares de Castella, que os Mouros tomaram – páginas 51 e 52
Capítulo IX: Da razam porque El-Rei D. Diniz desistio desta guerra, e se tornou a Portugal – páginas 52 e 53
Capítulo X: Dos casamentos, e Escaibos que depois da concordia se fizerão antre estes Rex em Alcanizes – páginas 54 a 62
Capítulo XI: Como El-Rei D. Fernando cazou com a Ifante Dona Constança, e o Ifante D. Affonso de Portugal com a Ifante Dona Beatriz de Castella, e das Menagens, que sobreesso se fizerão, e da decisão, que fez nas contendas que havia antre os Princepes Despanha, e da grandeza, e prudência com que nella se ouve, e muitas mereces que fez – páginas 63 a 78
Capítulo XII: Das ajudas, que El Rei D. Fernando de Castella, ouve delRei D. Diniz, pera a guerra dos Mouros de Grada – páginas 78 e 80
[Anterrosto: 2.º vol.] – página 81
[Rosto: 2.º vol.] – página 83
Capítulo XIII: Como El-Rei D. Diniz ordenou em Coimbra o primeiro Estudo, que ouve em Portugal – páginas 85 a 87
Capítulo XIV: Como foi feito em Portugal Mestre de San-Tiago izento da Ordem de Ucres de Castella – páginas 87 a 89
Capítulo XV: Do fundamento que teve a Ordem do Templo de Salamão em Jerusalém, e como foi desfeita, e se fez a Ordem de Christo – páginas 89 a 92
Capítulo XVI: Do principaal fundamento, e verdadeira cauza pêra esta Ordem dos Templários ser destroida – páginas 92 a 98
Capítulo XVII: Como o Papa, e El-Rei de França notificarão a El Rei D. Diniz esta condenação dos Templários, e de sua Ordem – páginas 99 a 106
Capítulo XVIII: Da discórdia, que ouve antre El-Rei D. Diniz, e o Ifante D. Affonso seu filho herdeiro, e as cauzas porque – páginas 107 a 111
Capítulo XIX: Das couzas que o Ifante capitulou pêra matar Affonso Saches seu irmaão, ou o desterrar fora do Regno – páginas 112 a 116
Capítulo XX: Da diligencia que El-Rei fez pêra saber a verdade dos estromentos de Maguazella – páginas 117 a 123
Capítulo XXI: Dalgumas couzas mais, que o Ifante fez contra vontade, e serviço del-Rei seu padre – páginas 124 a 126
Capítulo XXII: Como o Ifante se partio de Coimbra pêra Lixboa, e do que lhe aconteceo com El-Rei no Caminho – páginas 127 a 130
Capítulo XXIII: Como o Ifante levou a molher, e os filhos a Castella, e os Lugares, que tomou a El-Rei seu padre
páginas 130 a 134
Capítulo XXIV: Como El Rei, e o Ifante foram concordados por meio, e intercessão da Rainha Dona Isabel, e da maneira que nesso teve, e das menagens que pêra segurança desso se fizerão – páginas 135 a 137
Capítulo XXV: De huma carta do Papa João XXII ao Ifante D. Affonso filho del-Rei D. Diniz, sobre as desavenças com seu pai – páginas 137 a 143
Capítulo XXVI: Como a Rainha Dona Maria de Castella depois da morte del-Rei D. Fernando seu filho, teve vistas com El-Rei D. Diniz, a que trouxe El-Rei D. Affonso menino neto dambos, e do que concertaram – páginas 144 a 146
Capítulo XXVII: Como o Ifante D. Affonso se apparelhou pêra pelejar com o Ifante D. Felipe, que contrariava o asecego de Castella, e como o Ifante D. Felipe se foi – páginas 146 a 148
Capítulo XXVIII: Como o Ifante D. Affonso requereo a El-Rei D. Diniz seu padre, que fizesse Cortes ás quaes depois nora quiz vir – páginas 148 e 149
Capítulo XXIX: Como o Ifante sobre uma vinda, que contra vontade del-Rei quizera fazer a Lixboa, foram perto de pelejar, e porque o leixaram de fazer – páginas 149 a 151
Capítulo XXX: Como as gentes dei Rei, e do Ifante pelejaram sobresto em Santarem, e do que se fez – páginas 152 a 155
Capítulo XXXI: Da morte del-Rei D. Diniz – páginas 155 a 159
Capítulo XXXII: Das obras, e couzas notaveis, que El-Rei D. Diniz fez em sua vida – páginas 160 e 161

Index das cousas notáveispáginas 162 a 176
Índice dos capítulospáginas 177 a 180

Rui de Pina dá conta, logo no primeiro capítulo, de algumas virtudes de D. Dinis. Estas virtudes manter-se-ão permanentes até ao fim do seu governo. Depois, ao longo de outros trinta capítulos, registam-se numerosos episódios deste rei, para, no último, se voltar à sua afiguração e representação da sua administração. Adianta ainda que, ao longo da crónica, acrescentará mais rectidões de D. Dinis (“no cabo desta chronica brevemente há somarei, porque verdadeiramente se saibão” – capitulo I - página 16).
“Em idade de dezoito annos” (capitulo I - página 14) e ainda solteiro (“que sem ser cazado” – capitulo I - página 14), D. Dinis, revive Rui de Pina no capítulo I ("Como El-Rei D. Diniz sendo Ifante, foi levantado por Rei, e obedecido, e das virtudes que teve”). Revive o modo como foi levantado e obedecido por rei de Portugal e do Algarve (“foi loguo alevantado, e obedecido por Rei de Portugual, e do Alguarve ho Ifante D. Diniz” – capitulo I - página 14), em Lisboa. D. Dinis foi coroado após a morte de seu pai D. Afonso III (“ElRei D. Affonso Conde que foi de Bolonha, faleceu em Lisboa ha vinte dias de Março do ano de mil duzentos setenta e nove annos” – capitulo I - página 14).
Rui de Pina, desejando, talvez, realçar a maturidade do Infante, menciona que, no momento da coroação, D. Dinis tinha, apesar de solteiro, já a sua independência havia nove meses (“avendo nove mezes, que sem ser cazado tinha jáa por ElRei sua caza apartada” – capitulo I - página 14). De facto, em 16 de Junho de 1278, D. Dinis recebera casa de seu pai D. Afonso III em Lisboa e 40 mil libras em moeda antiga e, na mesma altura, segundo o Prof. Doutor José Mattoso, o governo do reino
[4].
Rui de Pina, ainda no âmbito do primeiro capitulo, fala das virtudes, três segundo ele, que caracterizam um D. Dinis (“que teve em perfeiçam tres virtudes” – capitulo I - página 14) demasiado admirável, desde o primórdio até à finalização do seu governo, conhecido por seu bom nome e estimado, por tal, entre todos os reis do mundo (“Este foi o começo do seu Reinado atée ho fim delle sempre em todos seus feitos mui excellente, e por seu bom nome conhecido, e estimado por tal antre todolos Reis do mundo” – capitulo I - página 14):
Segundo Rui de Pina, D. Dinis teve as virtudes que fazem dos homens que as acumulam sacros e perpétuos: a verdade, a justiça e nobreza (“que teve enm perfeiçam três virtudes, ha saber verdade, justiça, e nobreza, pelo qual hos homens que has tem, como elle teve, claramente sam avidos de humanos, por divinos, e de mortais por immortais” – capitulo I - página 14)
Quanto à primeira virtude (a verdade) “Nunqua delle se achou que dicesse mentira, nem quebra de sua verdade” ( capitulo I - página 15).
Na justiça, Rui de Pina evoca o cuidado colocado nos castigos e punições, querendo reparar alguns insultos e desmandos que de tempo de seu pai e avô ainda havia no reino (“e na justiça foi o seu primeiro intento, e cuidado, e punições, da qual quis logo reparar alguns insultos, e desmandos, que do tempo de seu padre, e avoo ainda avia no Reino” – capitulo I - página 15). E, principalmente, punir e castigar ladrões e malfeitores (“e principalmente em punir, e castigar ladrões, e malfeitores” – capitulo I - página 15). Rui de Pina refere as mercês concedidas aos roubados e grandes castigos aos punidos (“que com merces, que dava, e deligencias, que fazia, aos que eram tomados punia” – capitulo I - página 15).
O resultado deste sentido de Justiça de D. Dinis foi a segurança do Reino (“espantou, e desterrou da terra (…) que por suas culpas, e maleficios receberam em suas pessoas cruas penas, de que davam testemunho has muitas forcas do Reino que delles estavam cheas” – capitulo I - página 15)
D. Dinis, seguindo a politica praticada por seu pai e por seu avô mas de um modo mais obstinado que estes, vai travar o crescente poder senhorial, e consequente abuso de poderes, em detrimento da coroa, através da realização de inquirições gerais. D.Dinis ordenou-as em 1284, 1288 e 1301-1307. Das inquirições aqui se destacam dois exemplos retirados, respectivamente, do Livro 3 e do Livro 4 das Inquirições de D. Dinis
[5]:
“Item do julgado de Caminha e Cerveira achei depois que rol foi lido perante Pêro Martins e Duram Domingues, alcaides de Caminha e perante Rui Gomes cavaleiro vassalo do rei (...) e perante outros homens bons dessa vila por Pêro Eanes tabelião que todo o julgado está assim como manda el-rei segundo a mercê que fez aos filhos dalgo salvo na freguesia de S. Pedro de Mangoeiro que não deixam aí entrar o porteiro os filhos dalgo. Porque eu João Sazar mando da parte del-rei que entre aí o porteiro e venham perante os alcaides de Caminha e não ande aí o mordomo. Item na freguesia de S. Salvado de Covas há uma quinta onde mora Pêro Afonso e Domingos Muniz que queriam ser honrados porque criaram um filho de João Velho de barregã. Porque eu João Sazar mando da parte del-rei que sejam devassos porque o criado não era filho legítimo.”
* * *
“Fernão Martins de Revoreda jurado perguntado sobre a freguesia de S. João de Revoreda se há ai honra alguma feita por rei disse que não que ele o soubesse; perguntado de há ai honra feita por amádigo disse que no lugar que chamam Agabi criaram Rui Fernandes (...) e neste lugar costumavam antes peitar voz e coima e ir à anúduva e dar lutuosa e desde esse tempo nunca deram daí nem migalha ao rei e fazem dai honra; perguntado desde que tempo disse que havia bem sessenta anos. Item disse que no lugar que chamam Carcavelos no lugar que chamam a Pedra criaram aí Rui Marçan cavaleiro e ouviu dizer que faziam aí antes tal foro como deste outro acima dito e desde então fizeram daí honra: perguntado desde que tempo disse que cuidava que foi no tempo do rei Afonso, avô deste rei. Da freguesia de Santiago de Nogueira. Disseram que era couto de Santiago de Galiza e coutado por padrões e se faz foro de couto, voz e coima, vem-na pagar fora do couto, a metade a Caminha e a metade ao senhor do couto.

Um rei, partidário da justiça, “porque amou ha justiça” (capitulo I - página 15), acima de todas as coisas (“sobre todalas cousas” – capitulo I - página 15), “foi para todos mui justiçoso, e para si sobre todos justiçado” (capitulo I - página 15).
A nobreza de D. Dinis, segundo Rui de Pina, engloba uma variedade de outros ideais, entre os quais se podem destacar a sapiência, a misericórdia, caridade e amizade pelos camponeses que, defendendo e favorecendo-os, lhes chamou “nervos da terra e do Reino” (“e defendeu, e favoreceo muito hos lavradores, há que chamou nervos da terra, e do Reino” – capitulo I - página 15). D. Dinis teve, ainda, grande cuidado com os pobres e minguados, a quem sempre proveu com suas ajudas e esmolas (“teve grande cuidado dos pobres, e minguados, há que sempre proveo com suas ajudas e esmolas” – capitulo I - página 15).
D. Dinis realizou muitas leis para bom regimento da terra, sem alguma quebra, e sempre as guardou e mandou inteiramente guardar (“e fez muitas leis por bem, e regimento da terra, e todas sem quebra por si sempre guardou, e mandou inteiramente guardar” – capitulo I - página 15).
D. Dinis foi príncipe de bom saber, nunca a sua justiça foi tão cruel que, quando necessário, não lhe associasse misericórdia e a piedade (“sua justiça nom era sempre tam severa, que quando alguns casos, e tempos ho requeriam nom misturasse com ella muita misericordia, e piedade” – capitulo I - página 15).
Seja nas coisas da sua fazenda como da sua casa, D. Dinis, foi o rei mais provido e solícito. Um maravilhoso exemplo para que todos assim o fossem, pelo que se fez rei de grandes tesouros, e as gentes em seu tempo muito ricas (“e nas cousas de sua fazenda, e caza foi sobre todos ho mais provido, e solicito, com que deu maravilhoso exemplo, para que em seu Reino todos ho fizesem, por esso se fez Rei de grandes tezouros, porque hás gentes do reino foram também em seu tempo mui riquas” – capitulo I - página 15).
D. Dinis foi príncipe muito liberal mas sem algum vício de pródigo, celebrado e lembrado assim por todas as terras e muitos senhores de nações diversas, que vinham à Corte para o ver - como verdadeiro anfitrião, honrava-os e tratava-os com grandes dádivas e assim os despedia, e se não achavam enganados acerca da fama e esperança com que a ele vinham. A fidalgos e senhores estrangeiros, que por alguns casos tinham de sua ajuda, amparo e socorro alguma necessidade, nunca tal lhes negou em seu reino e a todos recebeu com muita honra e lhes fez grandes mercês ... (“e foi príncipe tam liberal sem algum vicio de prodigio, que por todalas terras elle por sua grande nobreza foi de todos mui celebrado, e lembrado, e por ella muitos senhores de Nações diversas vinham á sua Corte pelo ver, e elle assi hos honrava, e tratava, e com suas grandes dadivas assi os despedia que da fama, e comesperança, com que há elle vinham, nom se achavão enganados, e ha todolos outros Fidalguos, e senhores estrangeiros, que por alguns casos tinham de sua ajuda emparo, e soccorro alguma necessidade, elle nunqua em seu reino lho negou, e há todos recebia com muita honra, e fez grandes mercês. ” – capitulo I - página 15/16).

* * *
Rui de Pina, ainda no primeiro capitulo refere-se à vontade que D.Dinis de fazer guerra aos infiéis, aos mouros que ainda resistiam na Península Ibérica, de que não tinha terra que já deles fosse de sua conquista, trabalhava de lhes fazer a guerra continuadamente, por mar, com armadas e frotas que contra os mouros de África e de Granada sempre trazia. E nunca se acha que com eles fizesse paz, nem lhes desse trégua.
(“Este rei, porque sempre dezejou de fazer guerra ahos infiéis, e elle nom tinha terra, que jáa fosse de sua conquista trabalhava de lhe fazer continuadamente por maar com armadas, e frotas, que contra hos mouros Dafriqua, e de Grada sempre trazia, e nunqua se acha que contra elles fizesse paz, nem lhe desse tregoas, e hás mais cousas que em sua vida fez por acrescentar e enobrecer seu Reino” – capitulo I - página 16).
A este assunto dedica ainda, Rui de Pina, dois outros capítulos: Capitulo VIII: "”os grandes males, e danos que de um Reino a outro se faziam, e dalguns Luguares de Castella, que os Mouros tomaram” e o Capitulo XII: “Das ajudas, que El Rei D. Fernando de Castella, ouve delRei D. Diniz, pêra a guerra dos Mouros de Grada”.
No ano de 1319 há que demarcar, das grandes derrotas cristãs na guerra contra os mouros de Granada, a morte do Infante D. Pedro e o seu cunhado Infante João, que morreram no cerco.
O Rei, perante tão grande vitória dos Mouros de Granada, providenciou no sentido de se preparar o exército e reorganizar a armada, por recear a invasão marítima deste Reino, para prevenir a resistência a tão poderosos inimigos.
É neste contexto que surge a gratificação entregue ao Almirante Manuel Pessanha, a quem foi concedida a Vila de Odemira e rendas, diferenciando o seu serviço prestado a transitar continuadamente as costas da Berbéria, onde fez grandes honras, por mar e por terra para manter livre o país da opressão dos Mouros, a grande ajuda prestada a Castela, guardando a costa de Andaluzia na guerra de Granada. As jornadas e acções em particular do Almirante não se podem escrever por falta fontes.

* * *
Acerca do matrimónio de D. Dinis e D. Isabel, ficam algumas apreciações do cronista apresentadas ao longo de todo o capítulo dois: “Como El-Rei D. Diniz cazou com Dona Isabel, filha del-Rei D. Pedro Daraguam, e da Rainha Dona Constança, e de suas grandes virtudes, e santidade”.
Rui de Pina salienta, ainda, no mesmo capitulo, as santidades da dita rainha.
Nas suas apreciações, Rui de Pina conta que os vinte anos do rei eram suficientemente oportunos para casar e oferecer, ao reino, herdeiros legítimos (“Sendo ElRei D.Diniz de vinte annos, idade asáas conveniente para cazar (…) que cazasse para teer esperança de lhe dar Deos erdeiro legitimo” – capitulo II - página 17) que o sucedessem. Perante esta situação, foi-lhe aludida a Infanta D. Isabel, filha de El-Rei D. Pedro IV
[6], que estava ainda por casar.
Posteriormente, Rui de Pina refere-se à grande formosura e bondade (“Dona Isabel por suas muitas bondades, e grande fremosura” – capitulo II - página 17) de D. Isabel que fazem com que, em 1281 e em Estremoz, D. Dinis é um rei feliz que ultima o seu enlace com esta, (“por estes reipeitos della muito contente, estando em Estremoz no anno de mil duzentos oitenta e hum annos” – capitulo II - página 17) enviando os seus embaixadores e procuradores João Vasco, Vasco Pires e João Martins para efectuar os esponsórios, o que aconteceu em 11 de Fevereiro de 1282, no paço Real de Barcelona.
Rui de Pina descreve a viagem da Rainha santa Isabel: Atravessa Castela na companhia de seu primo D. Jaime pois D. Sancho, irmão deste e filho de D. Afonso X de Castela, andava ocupado na guerra que travava com o seu pai; D. Isabel Junta-se a seu cunhado, D. Afonso, que a esperava em Bragança. D Dinis espera pela Rainha em Trancoso (com o resto da Corte).
Rui de Pina descreve as festas e a grande alegria dos povos durante esta viagem e, já em Trancoso, as grandes e custosas casas de madeira provisórias que foram necessárias providenciar, de tal modo era a quantidade de pessoas à espera da nova Rainha.
O casamento, segundo Rui de Pina, terá acontecido em Agosto de 1282.
Da santa rainha, fica o conceito de um casamento com o rei e a sua extrema fé face ao peso das abstinências e orações. Do seu dia-a-dia, sobressai o tempo dedicado à leitura, às orações e aos trabalhos de mão praticados com as suas devotas e honestas donzelas.
Rui de Pina deixa transparecer uma imagem de uma dama tolerante e piedosa, de puro coração, calma, de palavras afáveis, dotada do “Espírito Santo” e, tocando a descrição física, de rosto gracioso e paciente.
Entre os rigores de uma boa conduta, Rui de Pina delineia o extenso calendário dos jejuns aconselhados pela Igreja, que a rainha fielmente cumpriu. Pelo facto, satisfazendo, assim, Nosso Senhor permitiu-lhe em sua vida muitos milagres, entre os quais o de transformar pão em rosas será o mais reconhecido, e muitos mais depois da morte:

Milagre das rosas
D. Dinis: “Que levais aí, Senhora?”
Ao que a Rainha Santa lhe responde:”Rosas, Senhor.”
“Rosas em Janeiro?” – Duvidou ele – “Deixai-me ver!”
De olhos baixos, a Rainha Santa Isabel abriu o regaço e o pão tinha-se transformado em rosas, tão lindas como jamais se viu.
Lenda Popular

Cronologia dos dois principais momentos do casamento de D. Dinis
1281
Estabelecimento das bases do contrato de casamento entre D. Dinis e D. Isabel
1282
Casamento de D. Dinis e D. Isabel

* * *
“El-Rei D. Diniz aver algumas Villãs, e Castellos de riba Dodiana, que forão de Castella” (capitulo III) porque D Beatriz (sua mãe) sempre socorrera seu pai D Afonso de Castela “com todo o dinheiro de sua fazenda, e com todalas as joias de sua pessoa, e com todalas rendas, e gentes, que tinha, e podia aver de Portugal” (capitulo III – Página 32) face à “errada desobediencia , e deslal alevantamento” do Infante D. Sancho (irmão de D Beatriz) recebe, por doação, as “villa de Niebla (…) Villas de Serpa, Moura, e Mouran, Noudar, que saõ em riba Dodiana” (capitulo III – Página 32) como gratidão pela sua ajuda, passando estas a fazer parte do Reino de Portugal.
Após esta passagem pelos acasos do fim de vida de Afonso X, o apoio de Portugal, principalmente de D. Beatriz (mãe de D.Dinis) e a recompensa deste apoio em doações, o cronista muda de assunto e empenha-se na prole de D. Dinis e D. Isabel, dando atenção a legítimos e bastardos (capitulo quatro - Dos filhos legitimos, que El Rei D. Diniz ouve da Rainha D. Isabel, e assi doutros bastardos). Rui de Pina identifica-os.


Focando os filhos bastardos, Rui de Pina fala de um “vencido da sobeja deleitaçam de sua própria carne” (capitulo IV - página 34) que, “afastandose de rainha sua molher nom lhe guardando ha inteira lei do matrimonio” (capitulo IV - página 34). A culpa desta situação, Rui de Pina, atribui-a a falsos e maus conselhos (“seguia por indusimentos falsos, e mãos, ha que se inclinava mais por sua vontade, do que por sua dinidade Real e, por sua consciência, e onestidade, sobresso devia, e por culpa e peccado desso se diz, que em quanto EIRey D. Diniz se deu ha estes apetites nom lícitos, sempre decrinaram as cousas da Justiça, que muito amou, e boa guovernança de sua caza, e fazenda que sobre todos soya milhor de ter (...)” – capitulo IV - página 34)
Segundo Rui de Pina, a Rainha Santa Isabel não mostrou qualquer dor por estes amores de ElRei D. Dinis, até que este “everguonhado destas suas fraquezas, e temendo ha Deus” (capitulo IV - página 35) se apartou das mulheres.
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O desacordo, a que se refere todo o Capitulo V, entre o rei D. Dinis e o seu irmão D. Afonso (nasceu em 08.02.1263) pode-se, segundo Rui de Pina, verificar em dois momentos distintos: O primeiro com a pretensão de D. Afonso ao trono alegando que, quando do nascimento de seu irmão, o casamento de seus pais era ilegítimo e, posteriormente, o incidente ocorrido quando D. Afonso, sem qualquer autorização, fortifica Castelo de Vide (condado junto à fronteira).
D. Dinis, não vendo com bons olhos esta acção do irmão, por ver nela um atentado à integridade do território nacional, derruba a primeira fortificação de Castelo de Vide. Este episódio não teve piores consequências por intervenção dos embaixadores de Aragão (que tinham vindo ultimar o tratado nupcial de D. Dinis e D. Isabel – Beltrão de Villafranca, Cónego de Terragona e Conrado Lança); D. Afonso obrigou-se a ser armado cavaleiro pelo Rei e ficar seu vassalo toda a vida –salvo se obtivesse condado fora de Portugal e com a autorização expressa do monarca- e com o aumento de rendas no valor de 35.000 libras anuais.
O ultimo momento de tensão entre os dois irmãos foi o “grande desacordo antre elle, e ho Ifante D. Affonso seu irmaõ, e há cauza principal, era porque ElRei D.Diniz nom queria, nem nunqua quis legitimar, e abilitar has filhas do Infante D. Affonso pêra erdarem suas Villas ” (capitulo V - página 36)
D. Afonso casou com uma infanta castelhana, de quem teve três filhas, todas casadas em Castela. Aquando da questão das heranças, D. Dinis temendo que a fortaleza de Castelo de Vide, assim com outras da raia fronteira fossem parar a mãos castelhanas, avança sobre os castelos fronteiriços. A intervenção da Rainha Santa Isabel conseguiu evitar confrontos. A contenda ficou resolvida quando D. Afonso decidiu aceitar a proposta de troca de Castelo de Vide, Portalegre, Marvão, e Arronches por Sintra, Ourém e outros afastados da linha de fronteira. De forma a evitar possíveis ataques, D. Dinis mandou erguer a cerca e Castelo de Vide, fazendo grandes obras no castelo.

Cronologia dos principais momentos do conflito entre D. Dinis e o seu irmão
1281
Inicio da luta armada entre D. Dinis e o Infante D. Afonso
1282
Acordo entre D. Dinis e o seu irmão (em Badajoz)
1287
Lutas entre D. Dinis e seus irmão (cerco de Arronches)
1299
Terceira Revolta do Infante D. Afonso que desta vez foi cercado, com a ajuda das Ordens Militares de Avis e do Templo, na cidade de Portalegre
1300
Acordo entre D. Dinis e D. Afonso

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Infante D. Afonso, “ho qual nasceo em Coimbra há oito dias do mez de Fevereiro de mil duzentos e noventa” (capitulo IV - página 33), filho de D.Dinis, foi o que mais ocupou Rui de Pina nesta crónica.
As graves e prolongadas discórdias entre D. Dinis e seu filho, o futuro Afonso IV de Portugal, foram tão longas que Rui de Pina confessa que apenas apurou as principais, reduzindo-as a três: Os ciúmes do infante, pela relação de D. Dinis e os seus filhos bastardos, principalmente, D. Afonso Sanches e conde D. João, a cobiça pelas riquezas e tesouros do rei seu pai e, por desejar a administração da Justiça do reino.
Nesta crónica, Rui de Pina apresenta D.Afonso como um infante sem razão, seguindo maus conselhos. As suas intenções eram despropositadas visto D. Dinis, seu pai, ter ainda boa idade para reger.
Muitas mágoas e coisas suportou do infante, acreditando sempre que, com a idade, se acalmasse. Mas cada dia “tira o bem de bem e acrescenta mal ao mal”.
Por tudo isto, D. Dinis sofre grandes irritações, face a um filho amigo de malfeitores e criminosos, em contínuos afrontamentos e ódio ao meio-irmão, Afonso Sanches (Capitulo XIX: Das couzas que o Ifante capitulou pêra matar Affonso Saches seu irmaão, ou o desterrar fora do Regno).
Rui de Pina enaltece a acção conciliadora da rainha Isabel (Capitulo XXIV: Como El Rei, e o Ifante foram concordados por meio, e intercessão da Rainha Dona Isabel, e da maneira que nesso teve, e das menagens que pêra segurança desso se fizerão) nos problemas existentes entre D. Dinis e seu filho.
Do reino, devido a esta questão, Rui de Pina, deixa um quadro de violentas pelejas e escaramuças, em que morre muita gente.

Cronologia dos principais momentos de D. Dinis com o seu filho
1319
Inicio da guerra entre D. Dinis e seu filho
1320
Primeiro manifesto de D. Dinis contra o seu filho
1321
Assassinato do bispo de Évora pelos partidários de D. Afonso
Segundo e terceiro manifesto de D. Dinis contra o seu filho
Conquista de Coimbra e outras localidades pelo Príncipe D. Afonso
1322
Primeiro acordo entre o rei e seu filho
1323
Recomeço da Guerra Civil
1324
Confronto entre Rei e Príncipe em Santarém
Cedências régias às pretensões do Príncipe
Celebração de paz na presença do Arcebispo de Compostela

* * *
Um dos feitos notáveis deste reinado, de tal modo que Rui de Pina dedicou-lhe um capítulo (capitulo XIII: Como El-Rei D. Diniz ordenou em Coimbra o primeiro Estudo, que ouve em Portugal), foi a criação do primeiro Estudo Geral.
Este feito serviu de pretexto para Rui de Pina corroborar a perfeição de D. Dinis e as suas bondades naturais, assim como outras virtudes reais (“ElRei D.Diniz assi como foi dotado de muitas boondades naturaaes, assi tambem nom lhe faleceram hás outras virtudes em todos Reaes ” – capitulo XIII - página 85). Para além da grande humanidade, todos os seus cuidados se orientavam no sentido de honrar e acrescentar mais sua terra, procurando que fosse abastada e provida daquelas coisas que tornassem os seus vassalos naturais mais nobres e melhor ensinados - propósito declarado numa das falas do rei aos prelados e conselheiros, sobre a necessidade de escolas e de estudos.
Num esboço de concepção política do bom príncipe, que da mão de Deus haveria de muitos de reger, fica o desejo de dotar o reino -já assaz provido de todos os mantimentos (do mar e da terra) e abastado de gente de armas - de abundância de homens letrados e sabedores. Daí a proposta de um Estudo Geral.
O ensino na Idade Média
Saber ler e escrever é, durante toda a Idade Média, privilégio de muito poucos. Mesmo a maioria dos membros da nobreza são analfabetos. O único grupo social com um grau razoável de cultura é o clero, uma vez que as práticas religiosas exigiam o conhecimento da palavra escrita. Não admira, por isso, que a quase totalidade das escolas estivesse nas mãos da Igreja e que, em geral, aqueles que as frequentavam se destinassem a seguir a carreira eclesiástica.
Até ao século XII, a maioria dos estabelecimentos de ensino tinham sido escolas monásticas, isto é, escolas que funcionavam junto dos mosteiros. Eram frequentadas pêlos futuros monges e por umou outro elemento da nobreza.
A partir do século XII as escolas monásticas começam a perder importância. As cidades eram já os centros mais activos do ponto de vista económico e cultural. Era aí que se fazia sentir com maior intensidade a falta de gente com uma boa formação intelectual. Será, por isso, nas cidades que irá funcionar um número cada vez maior de estabelecimentos de ensino.
Em geral, a iniciativa de fundação e manutenção dessas escolas ficou a dever-se aos bispos. Daí que fossem chamadas escolas episcopais (episcopus=bispo).
O ensino existente no século XII continuava, todavia, a dirigir-se apenas a um número restrito de alunos e, pelo seu carácter elementar, não satisfazia a crescente vontade de saber de muitos estudantes. Daí que, nalgumas cidades, se começassem a organizar associações de estudantes e professores, com vista à defesa dos seus direitos e à melhoria da qualidade de ensino. Assim nasceram as primeiras Universidades. Tratavam-se, afinal, de corporações de alunos e mestres, em tudo semelhantes às corporações de artífices embora com objectivos diferentes.
Inicialmente, as Universidades gozavam de uma autonomia quase total. A pouco e pouco, porém, os reis e a Igreja Católica não só começarão a controlá-las, como tomarão a iniciativa de fundar umgrande número de novas Universidades.
Aqui se enquadra a vontade de D. Dinis em fundar uma universidade em seu Reino.
As primeiras Universidades europeias tinham surgido na Itália, nos últimos anos do século XII. Nos séculos XIII e XIV espalham-se por quase todos os países da Europa, existindo já em 1290 umaUniversidade em Lisboa. Em todas as Universidades, as aulas eram dadas em latim, mas oplano de estudos variava de escola para escola. Habitualmente, os alunos começavam por frequentar a Faculdade das Artes, que correspondia, sensivelmente, ao nosso ensino secundário. Podiam optar, em seguida, por três Faculdades especializadas: Direito, Medicina ou Teologia.
Uma das Faculdades mais procuradas era a Faculdade de Direito. Aí se formavam os legistas, especialistas em direito romano, entre os quais os reis irão recrutar muitos dos seus conselheiros e altos funcionários administrativos. O ensino nas Universidades pouco ou nada tem a ver com o ensino nas escolas actuais. Baseava-se sobretudo na leitura e comentário de textos, na sua maior parte de autores antigos, gregos ou romanos, os quais eram considerados os mestres, as autoridades que não se podiam desmentir ou contestar.
No campo da filosofia, a principal «autoridade» era o grande filósofo grego Aristóteles. No entanto, Aristóteles, embora fosse um notável pensador, tinha sido pagão. O esforço de muitos filósofos da Idade Média vai ser o de tentar conciliar as teorias aristotélicas com a religião católica, isto é, conciliar a razão com a fé. Essa corrente de pensamento medieval é chamada escolástica e os seus maiores representantes foram Alberto, o Grande (1206-1380) e S. Tomás de Aquino (1225- -1274).

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Fundação do Estudo Geral em Lisboa (1290)
"(...) Ora, desejando vos enriquecer nossos reinos com este precioso tesouro, houvemos por bem ordenar, na real cidade de Lisboa (...) um estudo Geral, que não só munimos com cópia de doutores em todas as artes mas também roboramos com muitos privilégios.
Prometemos, com a presente carta, plena segurança a todos os que nele estudam ou queiram de futuro estudar, c não permitiremos que lhes seja cometida ofensa por algum ou alguns de maior dignidade que se sejam, antes, com a permissão de Deus, curaremos de os defender de injúrias e violências. Alem disso, quantos a eles verem nos adiarão em suas necessidades de tal modo generosos que podem e derem fundamentalmente confiar nos múltiplos favores da Alteza real (...)"
Carta de D. Dinis, privilegiando o Estudo Geral de Lisboa
Bula de Nicolau IV que confirma o Estudo Geral de Lisboa
Niculao Bispo, seruo dos seruos de Deos. Aos amados filhos, & Universidades dos Mestres, e Estudantes de Lisboa
[7], saude, & Apostólica benção. Do estado do Reyno de Portugal tanto mais vigilante cuidado temos, quanto mayor he em Nós o desejo de que no mesmo Reyno, apartados alguns impedimentos, *cobre vigor a obseruancia do divino culto, se atlenda ás atiras da saluaçao, & que a pureza da Fé Catholica se esforce para louuor do nome de Deos, & saluaçao dos Fieis, que nelle viuvem.
Em verdade á nossa obediência chegou, que procurandoo o charissimo em Christo filho nossodionysio, * ilustre Rey de Portugal, não sem muita, & louuauel prouidencia, estão de novo plantados na Cidade de Lisboa estudos de cada huma das licitas faculdades, & aos Mestres d'ellas, paraque mais desembaraçadamente se occupem no estudo, & ensino, dizem estar taxado, e prometidocerto salário por alguns Prelados Abbades da Ordem de Cister, & Priores de Santo Agostinho, &de S. Bento, & Reytores de algumas Igrejas seculares dos Reynos de Portugal, & Algarue.
Nós porém attendendo, que por meyo destes Estudos, cooperando aquelle, de que todos os bensprocedem, o culto diuino se augmentará nos mesmos Reynos, a deuaçâo crescerá, & e os Professores da Fé Catholica serão bem instruídos, & informados, & ornados com insígnias das virtudes, & alcançarão os thesouros da sabedoria. Por esta causa attendendo solicitamente á firmeza, & augmento dos taes estudos, e desejando, que com o auxilio do fauor Apostólico, os mesmos estudos com firmes raízes se fortifiquem: declaramos & liauemos por grato, & agradável a Nós, tudo o que sobre esta matéria está feito, rogando, & amoestando instantemente a El Rey sobredito, obrigue com seu poder Real aos Cidadãos de Lisboa, que aluguem aos Estudantes as Casas, que tiverem, em preço competente, o qual será taxado por dous clérigos, & dous leigos prudentes, catholicos, & ajuramentados, escolhidos por vos estudantes, e pelos Cidadãos mesmos, & que faça prometter com juramento, segurança, & immunidade a todos os bailios, ministros, & officiais seus na mesma Cidade, para as pessoas, bens. (&- mensageiros dos estudantes. (...) Mandamos mais que nenhum dos Mestres, estudantes, ou criados seus, dado o caso, o que Deos não permitia, que os comprehendam em algum maleficio, sejão julgados, ou castigados por algum leigo, se não for, que condenados no juiz ecclesiastico, os remettão ao secular.
E pelo mesmo modo mandamos, que os estudantes, Artistas, Canonistas, Legistas & Medicos, queos Mestres reputarem idoneos, possão receber o graoo de licenciados nas sobreditas Escolas peioBispo, que pro tempore for de Lisboa, ou pelo Vigairo, que Sede vacante for pelo Cabido in spiritualibus eleito.
E que qualquer Mestre pelos sobreditos Bispo, ou Vigairo examinado, & approuado em qualquerdas Faculdades, excepto Theologia, sem outro exame, tenha liure poder para ensinarem qualquer parte. Dada em Urbieto a sinco dos idos de Agosto, anno 3º do nosso Pontificado."
In Bula De Statu Regni Porlugaliae de Nicolau IV
Rui de Pina menciona, sem lhe dar muito relevo, o facto de D. Dinis ter adoptado o português (a língua vulgar) como língua oficial do reino. Assim, o português substitui o latim, a igreja perde força e facilita a comunicação entre as mais altas instâncias e o reino (pois o latim já era uma língua morta) e deste modo, consegue uma maior diferenciação do resto da Hispânia por ter uma língua própria.


Cronologia dos principais momentos – Estudo Geral e uso do Português
1288
Pedido à Santa Sé para a fundação de universidade em Portugal
1290
Aprovação papal do Estudo Geral
1296
Adopção da língua vulgar pela chancelaria régia
1309
Transferência dos Estudos Gerais para Coimbra


* * *
Um outro assunto privilegiado, destacado da atribulada relação de D. Dinis com a Igreja, por Rui de Pina diz respeito à isenção do mestre da Ordem de Santiago isento da “Ordem de Ucres de Castella” (Capitulo XIV), face a Castela e da “reformulação” dos Templários na nova Ordem de Cristo (Capítulos XV, XVI e XVII), de que decorre sempre um rei desejoso de acrescentamento e isenção de seus reinos (“como era Principe que sempre dezejou, e procurou acrescentamento, e izençam de seus Regnos” – Capitulo XIV. Páginas 87 e 88).
D. Dinis “enviou notificar todas estas couzas (os problemas dos monges da ordem de San-Tiago em Portugal com o Mestre de San-Tiago de Castella ) aho Papa Nicolao IV e supricou há Sua Sãctidade, que desse licença, e autoridade pêra que os dictos Freires, e Comendadores de seus Regnos, podessem antre si eleger Mestre da sua Ordem, que de todo fosse izento do Mestre de Castella, há que o Papa deu poder absoluto, e carta de sentença., e em todo satisfez” (Capitulo XIV. Página 88). O Mestre de Castela irá suplicar ao Papa Celestino (o sucessor de Nicolau IV) a anulação destas “concessoens passadas, annulando a eleiçam do Mestre de Portugal” (Capitulo XIV. Página 88). Mas “ho Papa Celestino aprovou há sentença pela primeira concessaõ feita, dada pelo Papa Nicolao, seu antecessor, e que o Mestre de San-Tiago de Portugal
[8], e do Algarve” Capitulo XIV. Página 88).
Rui de Pina expõe, ainda, a revelação da sentença da condenação da Ordem dos Templários.
Resumindo, estas questões, dir-se-ia que o rei da França Filipe o Belo, movido pela cobiça dos bens dos templários requereu ao Papa a extinção desta ordem alegando que a esta estava cheia de erros e ofensas. Após a extinção, D. Dinis houve para si todas as rendas dos bens e propriedades dos templários e os converteu no que lhe pareceu serviço de Deus.
No ano de 1319 é instituída, pela Bula Ad ae ex quibus, de João XXII, a Ordem de Cristo, Ordem de Cavalaria para substituir a ordem dos templários.



Cronologia dos principais momentos das relações de D. Dinis com a Igreja

1281
Reunião, na Guarda, visando o inicio de conversações com a Igreja
1282
Assinatura de concordata entre os bispos e o rei
1284
Exigência papal para alteração da concordata
1289
Ratificação da concordata pelo Papa
1286
Interdição régia da compra de bens de raiz pelos eclesiásticos e instituições religiosas
1288
Autorização papal para a eleição de um provincial independente do da Hispânia
1291
Interdição da Herança, por parte das ordens religiosas, dos bens dos seus professos.
Assinatura da Concordata de 5 artigos com os bispos do Porto, Guarda, Lamego e Viseu
1305
Contenda entre D. Dinis e o Bispo de Tuy
1308
Proibição régia da incorporação de bens dos Templários por outras ordens e inicio do seu processo de apropriação por parte da coroa.
1309
Concordata entre rei e o bispo e o cabido de Lisboa
1310
Pacto entre D. Dinis e D. Fernando IV sobre os bens dos Templários.
1316
Inicio do conflito entre o rei e os bispos do Porto e de Lisboa
1317
Papa encarrega o bispo de Évora de excomungar os inimigos do rei
1318
Embaixada à santa Sé para restaurar a província portuguesa daOrdem de Santiago e para a criação da Ordem de Cristo com os bens dos templários.
Exílio dos bispos de Lisboa e Porto em Avinhão
1319
Instituição da ordem de Cristo e eleição do seu primeiro mestre
1320
Concessão da Santa sé à aplicação do dizimo às rendas eclesiásticas para financiar o combate aos mouros.
1321
Aprovação dos primeiros estatutos da Ordem de Cristo


* * *
Rui de Pina, no Capitulo X (“Dos casamentos, e Escaibos que depois da concordia se fizerão antre estes Rex em Alcanizes “), menciona o tratado de Alcanizes “cujo treslado de verbo a averbo tornado fielmente por mim Coronista de Castelhano em Portuguez de proprio original que vi, e jaaz no Tombo he que se segue” (Capitulo X – Página 55), que seria selado com os matrimónios de D. Afonso, herdeiro português, com D. Beatriz, filha de D. Sancho IV, e de D. Fernando, filho de D. Sancho, com a Infanta D. Constância, filha do rei de Portugal.

* * *
Ao balanço do reinado de D. Dinis dedica Rui de Pina os capítulos XXXI “Da morte del-Rei D. Diniz”, o capitulo XXXII “Das obras, e couzas notaveis, que El-Rei D. Diniz fez em sua vida” e o Index das cousas notáveis.
Após a celebração da paz com o infante D. Afonso (1324), veio o monarca a adoecer de enfermidade e acidentes mortais, entre Lisboa e Santarém, para onde foi levado em andas e colos de homens. Como o seu estado se complicava, e a doença cada vez mais perigosa e fatal, como príncipe virtuoso, prudente e mui católico confirmou seu testamento e ordenou que fosse a enterrar no mosteiro de S. Dinis de Odivelas. Deu a sua alma a Deus em Santarém, a 7 de Janeiro de 1325, em idade de sessenta e quatro anos, dos quais reinou quarenta e seis.
Rui de Pina narra assim o seu fim: “E a Rainha Santa Isabel, vendo afincadas as dores e paixões da doença de El-Rei, que eram contínuas e pareciam mortais, duvidando da vida de D. Dinis, ela disse a todos desta maneira:
"- Porque eu tenho grande esperança em Jesu(s) Cristo, meu Senhor, e não menos confiança na gloriosa Virgem, sua Mãe, e assim singular devoção na Ordem e Hábito de Santa Clara, assim como sempre a tiveram aqueles de que descendo, sempre pus em minha vontade que, falecendo primeiro El-Rei, meu Senhor e marido, eu acabar a vida no dito Hábito, e, por isso, o tenho feito e há muitos dias que comigo o trago em minha arca, por tal que se, porventura, acontecesse de El-Rei, meu senhor, primeiro que eu falecer, o que Deus não queira, eu vestisse logo o dito Hábito, por lembrança de minha tristeza e por sinal de tamanha mudança de estado, que eu mais não devo ter, nem por fazer no dito Hábito de profissão, nem obedecer a alguma Ordem, que não é minha tenção fazê-lo. Especialmente porque eu, por minha idade e grandes enfermidades, não poderia suportar os grandes encargos e trabalhos da Religião, mas posto que eu este Hábito vista e traga, por isso não deixarei minha casa, nem as Donas e Donzelas que comigo vivem, mas, prazendo a Deus, espero trazer estas e tomar outras, como filhas e irmãs, e casá-las e aviá-las com o que eu puder de meus bens e fazenda, porque, como eu disse, eu proponho não fazer profissão desta Ordem, nem em outra alguma, nem tenho, em alguma, feito voto publico solene, nem secreto. E isto digo porque, em caso que no meu corpo vista o dito Hábito, que minha alma fique livre para de minha fazenda, sem algum outro cargo, nem obrigação de Religião, poder dispor livremente tudo o que, por bem, e, assim, o tenho dito e declarado muitas vezes ao Infante D. Afonso, meu filho, e a Frei João, meu confessor".
E, com isto, sendo a doença de El-Rei cada vez mais perigosa e mortal, tendo mui claro conhecimento que os dias da sua vida se acabavam, ele, como Príncipe virtuoso, prudente e mui católico, proveu seu testamento, que tinha feito com grande devoção e muito temor de Deus, e o confirmou, no qual mandou que o seu corpo se enterrasse no seu Mosteiro de D. Dinis de Odivelas, da Ordem de Cister, ou de São Bernardo, que ele, de novo, fundou e dotou, no qual, então, havia oitenta Freiras de Cogula, com voto de encerramento que não têm as dos outros Mosteiros desta Ordem, em que já tinha feito sua sepultura. E, de sua fazenda, apartou no dito testamento para só descargos da sua alma, trezentas e cinquenta libras, que, taxadas pelo preço de agora, à razão da valia da prata e ouro, que daquele tempo, tinham o valor e preço que agora têm os ducados e cruzados de ouro, como muitas vezes já disse. E esta soma mandou que logo se tirasse da torre do tesouro de Lisboa, que é agora a do Tombo, em que tinha grandes tesouros, e se entregassem a seus testamenteiros, de que o principal foi a Rainha Dona Isabel, sua mulher e a estes mandou que tivessem este dinheiro de sua mão no tesouro da Sé da dita cidade, de que cada um tivesse sua chave, para não haver embargo nem estorvo, quando dele quisessem despender e cumprir os legados e coisas que ordenava, e deixou a sua capela toda ao dito Mosteiro de Odivelas.
E toda outra sua fazenda e baixelas de ouro e prata, jóias e colares, pedrarias e panos ao Infante D. Afonso, seu filho herdeiro, e, destes cento e quarenta mil cruzados ordenou muitas e grandes esmolas repartidas por todos os Mosteiros, Hospitais e casas piedosas do Reino, e assim certa soma para casamentos de moças órfãs e para criação de meninos enjeitados, e também delas ordenou que um Cavaleiro de boa vida e vergonhosa, estivesse em Jerusalém e servisse, por ele, na guerra contra os infiéis, dois anos, e. para isto. ordenou três mil libras, que eram mil e duzentos cruzados e, quando se não achasse tal cavaleiro, ou não houvesse disposição para ir a Ultramar, que este dinheiro se convertesse em vestir pobres e envergonhados; e, outrossim, ordenou que outro bom homem de boa vida fosse estar em Roma duas quarentenas e que, por ele, andasse todas as Estações em que ganham as indulgências plenárias, c a este ordenou mil libras. E, depois disto, confessando os seus pecados com grande contrição e arrependimento deles, recebendo o Corpo de N. Senhor e iodos os outros Sacramentos, como Rei mui Católico e fiel Cristão, acabou a vida, dando sua alma a Deus, em Santarém, a sete dias de Janeiro do ano de mil trezentos e vinte [e] cinco, em idade de sessenta e quatro anos, dos quais reinou quarenta e seis.
E a Rainha, que era presente, se apartou logo em uma câmara, c das mãos de umas Freiras seculares, que consigo trazia, recebeu logo e vestiu o Habito de Santa Clara, que [razia feito, como já disse, e sendo nele vestida, antes de se fazer do corpo de El-Rei alguma mudança, ela, presente muitas que a ouviam, disse estas palavras:
"- Pois Deus por seu grande poder e profundo Juízo, houve por bem que a morte de El-Re, meu Senhor e marido, ante-passasse a minha, e sem sua vida eu fico e sou tanto corno morta, e, de razão, eu já morri com ele, e, por isso, eu quis logo mudar os vestidos e trajos que vedes, que são este Hábito pardo, cindido com esta curda e este véu branco que ponho sobre minha cabeça, porque a vida que sem ele viver seja com do e tristeza para sempre. E isto não faço por ser Freira, nem ter feito algum voto e obrigação de Religião, como lenho duo, mas por minha humildade, porque nele sirva a Deus, nas coisas em que a sua graça me ajudar".
E, com isto acabado, o corpo de El-Rei ficou consertado, como devia, e com muitas tochas acesas, e acompanhado da mesma Rainha e do Infante D. Afonso, seu filho, e do Conde D. Pedro, e D. João Afonso, e de outros Prelados e ricos e nobres homens do Reino, que ali eram juntos, e assim de muitos clérigos e religiosos que, com ele, iam rezando e encomendando sua alma a Deus, foi levado ao dito seu Mosteiro de S. Dinis de Odivelas, onde, não sem grandes aparatos e lamentações, foi metido em sua ordenada sepultura e, depois do seu enterramento, ficou aí a Rainha por algum tempo, cumprindo seus legados e fazendo outras muitas esmolas, devoções e orações, por benefício e descargo da sua alma. E da vida que depois teve esta Rainha, e como acabou, e quantos milagres fez Deus, por seus rogos e merecimentos, e onde jaz, direi na Crónica de El-Rei D. Afonso, seu filho, em cujo tempo e reinado ela depois faleceu, que foi onze anos depois da morte de El-Rei D. Dinis, como se dirá”.
A terminar, Rui de Pina resumiu as principais obras e coisas notáveis que El-rei D. Dinis fez em sua vida: “As obras e feições e coisas notáveis que este mui excelente Rei D. Dinis fez em toda sua vida, além das que nesta Crónica tenho escritas, em caso que, por desvairados tempos, as fizesse e mandasse fazer, porque da certidão dos anos e tempos em que semelhantes obras se fizeram, esta História que dele escrevo, nem os que a lerem não tem alguma final necessidade, e assim juntas se compreendem eentendem melhor, portanto as reservei para este derradeiro capítulo, e as principais soo estas:”

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Autor de muitas leis e ordenações e ter dado bons forais a muitos lugares – “primeiramente, ele fez muitas Leis e Ordenações, em seu tempo, e deu bons forais a muitos lugares de seus Reinos”.

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Criador do Estudo Geral de Coimbra, que foi o primeiro em Portugal. – “fez o Estudo de Coimbra, que foi o primeiro de Portugal”

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Responsável pelo primeiro mestre de Santiago isento de Castela e pela primeira Ordem de Cristo – “e fez o primeiro mestre de Santiago, isento de Castela

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“Oordenou primeiramente a Ordem de Cristo, e fez nela o primeiro mestre, como já disse.”

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Especial atenção às “villas, e Cidades que fundou, e reedificou (índex das cousas notaveis – página 162: “”Este Rei, em seu tempo, fez quase de novo todas as vilas e castelos de Riba de Odíana, a saber: Serpa, Moura, Olivenca, Campo-Maior, Ouguela, cujos alcáceres e castelos fez de fundamento, com muitas despesas; e assim fez na dita Comarca de entre Tejo e Odíana, os castelos de Monforte, e de Arronches, Portalegre e Marvão Alegrete, Castelo-de-Vide, Borba, Vila Viçosa, Arraiolos, Évora-Monte, Vieiros e o Alandroal, Monsaraz e Noudar; e acrescentou o castelo de Jeromenha; e fez o Redondo e o Assumar; e fez a Torre e Alcácer de Beja. E, na Comarca da Beira e Riba-de-Côa, fez, de novo, estes castelos, a saber: Avô, que agora é do Bispo de Coimbra; o Sabugal; Alfaiates; Castelo-Rodrigo; Vila-Maior; Casieio-Bom; Almeida, Castelo-Melhor; Castelo-Mendo; S. Felizes-dos-Galegos, que tem agora Castela. E não fez o castelo de Monforte de Riba-de-Côa, que também lhe foi dado, por estar em má disposição da terra e sua força, para defesa do Reino, não sendo muito necessária. Fez mais Pinhel e seu castelo, e nas Comarcas de entre Douro e Minho e Trás-os-Montes. Fez estas vilas e fortalezas a saber, cercou Guimarães da cerca que agora tem; e Braga; e Miranda-do-Douro e seu castelo; e Monsão; e Castro-Laboreiro; e povoou, de novo, e fez os castelos de Vinhais e Vila-Flor, Alfândega, Mirandela, Freíxo-de-Espada-à-Cinta, Vila Nova-de- Cerdeira. E fez, de novo, e do primeiro fundamento, Vila Real, que fazem número de quarenta e quatro Vilas, castelos e fortalezas do Reino, de que algumas fez novamente, e outras reformou, e fez de novo os castelos. E assim fez outras muitas povoações, assim como Muje, Salvaterra, Atalaia, Asseiceira, Montargil e outras semelhantes”.

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Ter feito a rua Nova de Lisboa e o mosteiro de S. Dinis de Odivelas, em que jaz. “E fez a Rua Nova de Lisboa, e assim o Mosteiro de São Dinis de Odivelas, em que jaz, o qual, logo a poucos anos que reinou, mandou começar e, em sua vida, se acabou em dez anos, e foi logo dado às mulheres Monjas, para que foi ordenado, porque o Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, fez e dotou, a Rainha Dona Isabel, sua mulher, e nele jaz, como ao diante direi”.

Conclusão
Chegou, portanto, o momento de traçar um cuidado retrato de D. Dinis, de retratar, esboçar uma figura detalhada da essência de D. Dinis. Com base no anteriormente esclarecido, comentado e resumido do extenso parecer de Rui de Pina, aqui fica uma “imitação” da personalidade de D. Dinis:
Portugal, quando “ElRei D. Affonso Conde que foi de Bolonha, faleceu”, assistiu à elevação de D. Dinis (09.10.1261 / 07.01.1325) ao seu trono. D. Dinis, o rei “mais provido” e “solícito” tomou o rumo de uma nação, que à data da sua coroação ocupava, com excepção da comarca de Riba-Côa e de Noudar, o território que ocupa na actualidade. Aos olhos de seus contemporâneos era o melhor administrador da justiça, garantindo aos particulares os seus direitos, salvaguardando os da coroa.
D. Dinis revelando maturidade desde muito cedo – aos 18 anos já vivia sozinho e participava no governo do reino – manteve-se admirável ao longo do reinado conseguindo ser conhecido e admirado por “todolos Reis do mundo”.
Virtuoso, de tal modo que pode ser considerado divino e “immortal”, patrocina a sua maneira de ser na Verdade - “Nunqua delle se achou que dicesse mentira, nem quebra de sua verdade”, na Justiça “porque amou há justiça sobre todalas cousas” e soube associar à sua justiça misericórdia e piedade quando necessário e na Nobreza. Esta última virtude engloba outros ideais como a sapiência, a misericórdia, caridade e amizade pelos camponeses, pobres e “minguados”.
D. Dinis foi rei de grandes tesouros (para si e para as gentes em seu tempo). Nestes tesouros podem-se incluir, entre outros, o período de prosperidade e paz para o reino, a instituição do Estudo Geral e o apoio dado ao português.

Autêntico, cheio de bondades naturais e virtudes reais, sempre foi íntegro. Rui de Pina apenas ressalta, como excepção, que D. Dinis não guardou a D. Isabel “ha inteira lei do matrimonio” no princípio do casamento, vencido da sobeja deleitaçam de sua própria carne.
D. Dinis terá sido um bom pai pois muitas mágoas e coisas suportou do infante D. Afonso.
D. Dinis é apresentado como ambicioso pois todas as suas preocupações se orientavam no sentido de honrar e acrescentar mais sua terra, procurando que fosse abastada e provida, possuindo grande humanidade, como um bom administrador e legislador “e fez muitas leis por bem, e regimento da terra, e todas sem quebra por si sempre guardou, e mandou inteiramente guardar”.
Não chegando, a Rui de Pina, esta extensa lista de virtudes, santidades, faculdades e rectidões, o autor atrevesse a chamar liberal, prudente e mui católico, temente a Deus, sem algum vício de pródigo, consciente, culto e honesto a D. Dinis.
De uma maneira dissimulada (porque não especificada por Rui de Pina) surge-nos uma personalidade conflituosa ilustrada pela sua relação com os mouros que lhes fazia guerra sem necessidade - pois a elle nom tinha terra, que jáa fosse de sua conquista –, e pela relação com o seu irmão, com o filho ou a Igreja. Importa realçar que Rui de Pina também apresenta o reverso da medalha, apresentando D. Dinis como um excelente mediador nos vários problemas internacionais da sua altura.
D. Dinis terá sido um verdadeiro anfitrião, famoso pois a ele vinham senhores de Nações diversas, celebrado e lembrado assim por todas as terras e muitos senhores de nações diversas.
Do aspecto físico de D. Dinis, Rui de Pina, talvez pelo facto de não ser seu contemporâneo, não deixou transparecer nenhum facto na sua obra.
Fazendo minhas as palavras de Rui de Pina, aqui ficou uma imagem de uma personalidade impar da história de Portugal.

“DEO GRATIAS”


Bibliografia

1) Obras de carácter geral
MARQUES, A. H. Oliveira, História de Portugal, Lisboa, Palas, 1981-1983.
MATTOSO, José (direcção), História de Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.
PEREIRA, Paulo (direcção), História Arte Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 1995.
SARAIVA, José Hermano (coordenação), História de Portugal, Matosinhos, QN Edições e Conteúdos, 2004.
SERRÃO, Joel, Dicionário de história de Portugal (volume I), Porto, Livraria Figueirinhas, 1971.
2) Obras de carácter específico
PINA, Ruy de, Bibliotheca de clássicos Portuguezes , Volume LXXI, Lisboa, Escriptório, 1912
[9]
BUESCO, Maria Leonor Carvalhão, Apontamentos de literatura Portuguesa, Porto, Porto Editora,1977.
COELHO, Maria Helena da Cruz, Homens Espaços e Poderes, Séculos XI a XVI, 2 vols., Lisboa, Livros Horizonte, 1990.
LIMA, Augusto Mesquitela, MARTINEZ, Benito e FILHO, João Lopes, Introdução à Antropologia Cultural, Lisboa, Editorial Presença, 1987
LEITE, Fernando Barros, O Rei D.Dinis e a Rainha Santa Isabel, Coimbra, Livraria Minerva, 1993.
MARQUES, A. H. Oliveira, Novos Ensaios de História Medieval Portuguesa, Lisboa, Presença, 1988.
MATTOSO, José, Identificação de um País. Ensaio Sobre as Origens de Portugal 1096-1325, 2 vols., Lisboa, Estampa, 1985.
MOREIRA, Vasco, Terras da Beira – Cernancelhe e seu Alfoz. Porto, Officinas de O Commercio do Porto, 1929
3) Principal fonte iconográfica
Página oficial (na “internet”) da Câmara Municipal de Odivelas


NOTAS:
[1] LIMA, Augusto Mesquitela, MARTINEZ, Benito e FILHO, João Lopes, Introdução à Antropologia Cultural
[2] Note-se que uma parte destas narrativas foi aproveitada por escritores modernos nomeadamente por Garrett (o romance em verso de Miragaia), Alexandre Herculano e outros.
[3] Esta obra é muito útil ao estudo da História Medieval Portuguesa.
[4] História de Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993 – página 147
[5] Maria Helena da Cruz Coelho., op.cit
[6] Rui de Pina chama “o IV” ao pai de D. Isabel enquanto todos os documentos contemporâneos o identificam como D. Pedro III.
[7] Rui de Pina refere a criação do Estudo Geral em Coimbra e não em Lisboa como consta nesta Bula
[8] Curiosamente, nesta edição da “Crónica D’El Rei D. Diniz” Portugal surge de duas formas “Portugual” (como por exemplo no capitulo I - página 14) e “Portugal” (como por exemplo no Capitulo XIV. Página 88)
[9] Versão digitalizada pela Biblioteca Nacional (Lisboa) e disponível “on line” na página http://purl.pt/340
Luís Ribeiro Bento