Intitulatio [dar-se a si próprio um título].

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Riso ou rir?



Eis algo que me intriga! Rir ou riso será uma mesma emoção? Será desencadeada pelos mesmos motivos?
Não! Entendo que “riso” e “rir” têm analogia igual a “vermelho” e “encarnado” ou “estadia” e “estada”.
A diferença entre “vermelho” e “encarnado”, coetâneamente, apenas será notada pelos mortos pois todos os outros já não as discriminam. Mas, felizmente, “estadia” e “estada” ainda não padecem do mesmo mal.
Se “riso” e “rir” são conceitos indistintos porque não reajo, da mesma forma, aos dois? Gosto de rir... Mas não gosto muito do riso: “Para que estás nessa risota?” - usavam para cessar um comportamento; “Vamos rir!” – uso para iniciar uma deliciosa aventura;
Situações antagónicas e, em rigorosamente nada, indistintas.
Gosto de chalacear mas abomino (tem vezes!) a zombaria. Palavras antagónicas estas últimas, não são? Chalacear e zombaria não têm o mesmo significado... Pois, para os mais distraídos, são sinónimos, respectivamente, de rir e riso.
Gracejar e escárnio serão? Pois, e mais uma vez para os desviados, gracejar e escárnio também eles são sinónimos, respectivamente, de rir e riso.
Atentem e não se esqueçam que Deus está nos pormenores, na minúcia das coisas. Riam e evitem o riso e, por favor, considerem os pormenores, as diferenças pois, em qualquer um destes ou outro qualquer, poderão assistir a uma manifestação do Altíssimo.
Adjurem e defendam as diferenças, por muito pequenas que sejam. Como bela amostra resta-nos “estadia” e “estada”, já por esta altura julgadas esquecidas. "Estada" e "estadia" espelham esta existência, esta importância do pormenor. Entre estas duas apenas difere, na sua escrita, o “i”. No seu significado distam toneladas pois, a primeira, faz referência ao tempo de permanência de uma pessoa num dado local enquanto que, a segunda, o de um barco num porto.
Um pormenor faz muita diferença.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ele há...


Ele há dias em que só apetece mandar, mesmo correndo o risco de ser mandado, o universo dar uma curva. Ele há dias, mesmo os em que se iniciam treze anos do fenecimento da nossa mãe, como é o caso, em que se almeja procurar o desterro.
O desterro, não o da cidade de Lisboa – que, por coincidência (como se eu acreditasse nesta e nas outras todas), foi onde a minha mamã iniciou a sua jornada para a morte - , mas aquele onde mais nenhum chega. Aquele que, escondido, provém descanso aos que, não fartos da vida, já não ambicionam futuro ao Homem. Aquele que, sob a autoridade de Nossa Senhora do Desterro, pretende a placitude do lugar e não o acompanhamento desta “na travessia do deserto da vida, até alcançarmos o Oásis eterno, o céu”, tal como é proferido na Sua oração.
O Céu pode, e deve, esperar muito por mim. (Acho que a vida me deve isso.) Apesar de ter (muitíssimas) saudades de quem lá tenho, ainda há quem precise, e muito, de mim aqui, longe do desterro.
“Ó clemente, ó piedosa,/ ó doce sempre Virgem Maria. / Nossa Senhora do Desterro, acompanhai-nos na travessia do deserto da vida,”; Nesta prece, por hora e durante muito tempo, trocava, se me fosse permitido tal atrevimento, a palavra “oásis” pelo vocábulo “sossego”.
Se me fosse autorizada a mudança iria apregoá-la, à oração por mim alterada, no comboio, no metro, nos autocarros e principalmente, no local de trabalho.
Mas acho melhor não. Acho que, para quem ambiciona o degredo pelo seu sossego, não seria faustoso a apregoar no meio de tanto inútil ou desnecessário. Acho melhor não sonhar, sequer, em alterar uma oração para meu benefício.
Acho melhor não procurar qualquer um dos desterros pois acho que o sossego é dispensável.

Acho que, hoje, eu sou daqueles que procura a placitude, e não o sossego, do desterro. Que procura apenas e só a placitude, se a não ponderarmos como uma forma de sossego, por já nem saber o que quer.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Será que sou , que estou sozinho?

Será que este mundo é tão pequeno que todos os doidos têm que respirar à minha volta? Ou será que é tão grande que me sinto a respirar para cima destes?
Este é um dos meus mistérios.
Mistério tão grande como, nos tempos idos da tropa, o srº. alferes berrar um “direita volver” e eu ficar de frente para o pelotão. “Sim, tu és o único que está bem! Todos os outros estão mal!”
E como tinha razão o dito oficial. Tanta razão que ainda hoje no trabalho, ou no mundo em geral, sinto-me como o “único que está bem”.
Mas será que é importante o “meu” sentir? Pois, sinceramente, acho que não... Acho que o meu sentir, tal como todos os sentires dos doidos, tornam-se tão ridículos que acabam por ser e cheirar a merda.
Importa, destarte, para a Humanidade, a existência dos doidos e não o facto de respirarem ou sentirem. A mim incomoda-me, não o facto de respirarem, mas sim o facto de os sentir, ver, aturar ou, simplesmente, saber que existem.
Lá está o meu mistério, o meu mistério do dia de hoje. Eu bem e a Humanidade muito mal. Hoje e de todos os dias...
Que grande merda!
Mas, partindo das certezas de que o mundo é pequeno e povoado de malucos, o que serei eu e qual o meu papel dentro da grande definição que é a Humanidade, Homem ou espécie humana? (Desculpem!!!!!! Não posso ir por este caminho devido a várias promessas feitas).
Mas, partindo das certezas de que o mundo é pequeno e povoado de malucos, porque não me aparece alguém, podia ser apenas um, que saiba ser e, tal como eu, “estar bem”?
Dos malucos todos não há algum que saiba ser o único que está bem?
Ah! Se calhar há mas não respira e, se não respira eu não o sinto! Se não o sinto logo não existe. Acho que até já começo a perceber o “Cogito, ergo sum” do tal de bigodinho que se descartava... do, tal do Discours de la Méthode.
Chegava-me um. Apenas um e só um. Deixaria de ser, tal como sou desde sempre, o “único que está bem” e passariamos a ser “os que estão bem”.
Giro. Muito giro mesmo.
Façamos de conta; Façamos para, pelo menos neste ponto, eu não estar sozinho. Têm que concordar comigo que, por vezes, é chato estar sozinho. Vejam no que diz respeito ao sexo! Não, este é um mau exemplo pois viver a sexualidade a solo não é aborrecido, é monótono, silêncioso, insípido e faz doer o pulso.
Têm que concordar comigo que, por vezes, é chato estar sozinho. Vejam no que diz respeito aos loucos: acham que todos os doidos que aturo, contando com os que tiveram coragem de continuar a ler até este ponto, vejo, ouço e sinto respirar sobreviviam sozinhos? Claro que não.
Existindo sozinhos não seriam doidos, seriam o “único que está bem”!!!!!
Estando bem, sentiriam os doidos, invertendo agora e hipotéticamente os papéis, o meu respirar? Sentir-me-íam, veríam-me, aturar-me-íam ou, simplesmente, sabiam que eu subsistia? Seria eu a ser e a cheirar a merda?
Perguntas legítimas.
Seriam EU mesmo. Eu mesmo sozinho contra a Humanidade, Homem ou espécie humana.
Enfim, depois disto tudo, acabei de matar mais um mistério e de criar mais uma certeza.