Intitulatio [dar-se a si próprio um título].

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ele há...


Ele há dias em que só apetece mandar, mesmo correndo o risco de ser mandado, o universo dar uma curva. Ele há dias, mesmo os em que se iniciam treze anos do fenecimento da nossa mãe, como é o caso, em que se almeja procurar o desterro.
O desterro, não o da cidade de Lisboa – que, por coincidência (como se eu acreditasse nesta e nas outras todas), foi onde a minha mamã iniciou a sua jornada para a morte - , mas aquele onde mais nenhum chega. Aquele que, escondido, provém descanso aos que, não fartos da vida, já não ambicionam futuro ao Homem. Aquele que, sob a autoridade de Nossa Senhora do Desterro, pretende a placitude do lugar e não o acompanhamento desta “na travessia do deserto da vida, até alcançarmos o Oásis eterno, o céu”, tal como é proferido na Sua oração.
O Céu pode, e deve, esperar muito por mim. (Acho que a vida me deve isso.) Apesar de ter (muitíssimas) saudades de quem lá tenho, ainda há quem precise, e muito, de mim aqui, longe do desterro.
“Ó clemente, ó piedosa,/ ó doce sempre Virgem Maria. / Nossa Senhora do Desterro, acompanhai-nos na travessia do deserto da vida,”; Nesta prece, por hora e durante muito tempo, trocava, se me fosse permitido tal atrevimento, a palavra “oásis” pelo vocábulo “sossego”.
Se me fosse autorizada a mudança iria apregoá-la, à oração por mim alterada, no comboio, no metro, nos autocarros e principalmente, no local de trabalho.
Mas acho melhor não. Acho que, para quem ambiciona o degredo pelo seu sossego, não seria faustoso a apregoar no meio de tanto inútil ou desnecessário. Acho melhor não sonhar, sequer, em alterar uma oração para meu benefício.
Acho melhor não procurar qualquer um dos desterros pois acho que o sossego é dispensável.

Acho que, hoje, eu sou daqueles que procura a placitude, e não o sossego, do desterro. Que procura apenas e só a placitude, se a não ponderarmos como uma forma de sossego, por já nem saber o que quer.