Intitulatio [dar-se a si próprio um título].

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O meu será meu?

Será o sentimento de posse um valido na nossa consciência? Eu cá, e falando pela que melhor conheço – a minha -, atrever-me-ia a afirmar que o sentimento de posse é a sensibilidade mais forte do meu conhecimento.
Não a posse física de outra pessoa – será escravidão – mas a posse e respeito dos sentimentos que nos une a essa pessoa; Não a posse da liberdade de outra pessoa – que será só daquela – mas a sintonia de ambas as “independências”; A posse, neste caso, será o privilégio de ser presenteado com o sentimento (seja ele qual for) de outrem. Logo se é presente é meu e de mais ninguém!
Os sentimentos da outra pessoa, principalmente os que me tocam directamente, gosto de os considerar meus e, de um modo intransigente, exclusivos à minha consciência.
Uma coisa que me faz espécie é, nos casos onde existem laços insignificantes entre as pessoas se usem palavras despropositadas a estas situações.
O exemplo modelar desta situação é o uso da palavra “minha” que, como se não bastasse só por si, surge amplamente ligada a “querida”.
“Minha querida” porquê se não o é?
“Minha querida amiga” já é uma expressão a ser louvada. Seria se não vivêssemos uma amizade que se estreita ao Facebook. E neste caso não sei se será uma “amizade” ou uma “montra de egos, de troféus” de seres liliputianos que apenas desejam o que é dos outros que, certamente, não é [e esperemos que nunca seja]do seu usufruto.
Qual a necessidade de apelar ao ego de uma pessoa, com estas falsas expressões, se, certamente, a pessoa visada já escolheu e permitiu quem possa condescender ao seu intimo?
Beijinhos, beijocas e derivados é um outro caso modelar desta estupidez generalizada: “beijos” é, geralmente, aceitável [e no plural pois são vulgarmente dados aos pares sendo que, no singular, será dado nos lábios]; “beijinhos” dão-se a uma criança ou a um animal [geralmente quem não tenha (ainda) um intelecto muito desenvolvido] e “beijocas” a uma pessoa que partilhe a nossa consciência.
Acho que cada vez mais o respeito, pelo que é dos outros e não nosso, se desvanece nas nossas relações pessoais.
Porquê este atentado constante ao que não é nosso?
Como sempre ouvi que “Deus existe nos pormenores” estarei eu a “over react”?